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sexta-feira, 29 de março de 2013

ALELUIA! (Αλληλούια, HalleluJah)


                   ALELUIA!

(Αλληλούια, HalleluJah)

 

De Jesus Cristo apenas sei

o que a História me ensina

mas a luz da Sua doutrina

que me ilumina o coração

neste tempo sem Lei

em que o mundo desespera

ganha cósmica dimensão

na minha frágil razão

 

É o Cristo do Advento

o Jesus de quem espera

o fim do sofrimento

 

É o Amor que não esmorece

é a Páscoa que acontece

em cada Primavera

 

É refrigério da dor

dádiva total de Amor

explosão de Alegria

Αλληλούια, HalleluJah, ALELUIA!

Ressurreição

 

É o Deus de quem resiste

e de Amar não desiste

nem de em paz Viver

 

É a Fé verdadeira

a Esperança derradeira

de que libertos de todo o mal

havemos de nos salvar

e deixaremos de sofrer

 

É o Cristo da Kenose (1)

a gloriosa metamorfose

de Deus que à Terra  veio morrer

para a Si mesmo Se ressuscitar

e ao Céu reascender

 

É o Jesus Cristo da Parusia (2)

que em glória e alegria

à Terra irá voltar

para a todos nos salvar

 

Αλληλούια, HalleluJah, ALELUIA!

 


(1) Kenose- A completa auto-doação no amor, como descrita por São Paulo no seu Hino aos Filipenses, 2, 6-9.

(2) Parúsia-A segunda vinda de Jesus Cristo à Terra.

 

Vale de Salgueiro, 22 de Março de 2008

Henrique António Pedro

quarta-feira, 27 de março de 2013

Versos impressos no pó do caminho




À ida
deixo poemas
suspensos no ar
e os rastos dos meus passos
impressos no pó do caminho

À volta
já a brisa do fim da tarde
lhes deu descaminho
desemaranhou os dilemas
e alisou as arestas dos rastos

Outros transeuntes vieram
os pisaram e deformaram
mas seria a chuva telúrica
a apagá-los definitivamente
dissolvendo o pó em lama

Poderiam ser maciços graníticos
piramidais
anónimos
erigidos no deserto
que teriam o mesmo fim
embora mais lenta fosse a agonia
ou mais funda a chaga
ainda assim

Mas os meus poemas têm o meu rosto
são os rastos indeléveis dos meus passos
que ninguém que preste
apaga
mesmo se os ignora
e não lê

Encontram-se
permanentemente
a perderem-se
na imensidão do Cosmos
e só o vento celeste
os dilui na eternidade

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terça-feira, 26 de março de 2013

A pensar na vida




Mais um dia
mais um momento
em que me predisponho a pensar a sério na vida

Venho fazendo isto
sistematicamente
desde que me dei conta que sou gente
embora aparentemente
nos outros dias
não deixe de me preocupar

Sem nada
até hoje
concluir

Talvez chegue a uma conclusão
desta vez
quanto mais não seja que tudo está fora do alcance da Razão

Mas eu não sou agnóstico confesso
e até professo a doutrina de Cristo

Embora sinta
por vezes
vontade de me rebelar
de mandar tudo à merda
e considere pura perda
estar assim me martirizar

Mas acabo sempre por me humildar
e caminhar sem tino nem destino
de cabeça cabisbaixa
ao sabor do vento
por caminhos traçados por montes e vales
inteiramente mergulhado na Natureza
e subjugado às forças telúricas e cósmicas
que assim livre sobre mim melhor se fazem sentir
impondo-me o seu norte


Até à hora em que são horas de demandar ao jantar

É então que sinto o estômago falar mais alto que e Razão
e no coração melhor ouço a voz interior
que me segreda que a minha mente é sim insuficiente
demente
mas que não me importe

No coração palpita o espírito
que acende um calorzinho interior a que se chama amor

E aí
sem ter que pensar
encontro explicação para tudo
até para a morte

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domingo, 24 de março de 2013

A mais obscena das palavras





Onde ponho as mãos
e o olhar
tudo transformo em poesia
por via do amor

As flores
sou eu que as crio

A luz das estrelas
sou eu que a acendo

A paixão das mulheres apaixonadas
sou que a incendeio

O sorriso das crianças
todas as esperanças do mundo
sou eu que as rasgo

Respiro poesia
como poesia
transpiro poesia
transformo em poesia a própria dor

Há uma palavra, todavia
que não ouso pronunciar
nem tão pouco de rimar
com poesia

É a mais obscena de todas as palavras:
-  A palavra odiar

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sábado, 23 de março de 2013

A verdade…é que…




A verdade…
é que a fraga informe
se não transforma em estátua
só pela acção do vento
da chuva
e do tempo

A verdade…
é que só no reino da fantasia
a estátua ganha vida
por um sopro de magia

A verdade…
é que não basta sonhar
para a obra se erguer
é preciso suar

A verdade…
é que não basta esperar
para o homem se converter
e em santo se transmutar
é preciso porfiar

A verdade…
é que não basta morrer
para o espírito livre
se salvar

A verdade…
é que é preciso querer
viver
sofrer
e muito amar

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sexta-feira, 22 de março de 2013

Anamnese




Há um quadro inclinado
dependurado
no mural da minha memória
que me apraz deixar assim
empoado
contrastando com as colunas jónicas
que alicerçam a lembrança

Um evento supenso no tempo
uma efeméride efêmera

Uma quimera
de que já nada se espera

Um amor que se diluiu em dor
até se esquecer

Um afecto pendente
para sempre
a fazer-me lembrar que a história
se não faz de memória
mas de esquecimento

Esquecer não é apagar da recordação
é varrer do coração

Anamnese é a exegese
de uma paixão

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