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sexta-feira, 7 de junho de 2024

Em matéria de amor vou mais além



Nesta vida

na outra

noutras mais

se mais houver

 

Em matéria de amor

vou mais além

 

Guio-me por outra via

 

Procuro a verdade na poesia

ansiedade de eternidade

da minha alma razão de ser

 

Na calma desperta do meu viver

que releva a paixão

odor que o Espírito liberta

Amor Apocalipse

Amor Revelação

 

Vale de Salgueiro, domingo, 28 de Novembro de 2010

Henrique António Pedro

 


sábado, 1 de junho de 2024

E um dia simplesmente nasci

 


Não me lembro do acto em que nasci

do parto de minha mãe

nem por quem

fui assistido

 

Tão pouco sei se gozei

sofri

ri ou chorei

muito menos donde vim

da razão de assim ser

e de estar aqui

por ou sem querer

 

Quanto depois disso já vivi

sofri e amei

eu recordo

ainda assim a vida me sorri

nada tenho que esquecer

de nada eu discordo

 

Ah!

 

Mas gostava de me lembrar

do espírito que fui e veio encarnar

no ventre da minha mãe amada

no tempo e no espaço encantado

onde com tanta alegria

desabrochei em poesia

 

Gostava, sim, de me lembrar

de tudo que se passou

do que fui e do que sou

sem fantasia

 

Gostava mais de saber

do que ainda vou viver

mesmo depois de morrer

na esperança de não mais sofrer

o que já sofri

já se vê

 

Mas não!

Apenas sei que um dia

sem que saiba porquê

simplesmente nasci 


Vale de Salgueiro, quarta-feira, 26 de Setembro de 2012

Henrique António Pedro

 

domingo, 26 de maio de 2024

Nem a mim nem ao mundo eu entendo



A vida

é uma frustração

o Universo

pouco mais que um verso

o Cosmos

um caos indevido

 

Dor é aberração

e sofrer

uma contradição

 

O amor

é muito mais que uma flor

a Terra

dizem

um paraíso perdido

 

Eu

vagabundo

não caibo no mundo

e o mundo não cabe em mim

 

Apesar do muito que já vivi

amei

e sofri

continuo sem me entender

 

Nem a mim

nem ao mundo

eu entendo

ainda assim


Vale de Salgueiro, segunda-feira, 12 de Outubro de 2009

Henrique António Pedro

 

quinta-feira, 23 de maio de 2024

Poema pão

 


A todo o tempo

e por toda a parte

 

Em terras de amor

de vício

e de dor

onde a vida se reparte

 

Na paz ou na guerra

no ar, no mar e em terra

sempre um poema germina

uma seara de poesia cresce

e cobre os campos de fantasia

de alegria

de papoilas

de malmequeres

e porque não

de frutos silvestres

 

Até no pântano mais escuro e fétido

Lotus a flor luminosa

perfumada

floresce

esplendorosa

 

Não vive só de pão a Humanidade

também de toda a poesia

do amor e da verdade

de que se alimenta o coração

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 4 de Dezembro de 2009

Henrique António Pedro

 

segunda-feira, 20 de maio de 2024

Abraço ao vivo e em tempo real


No exacto instante em que pousas a vista neste primeiro verso

anota o tempo

e regista o local preciso do Universo

em que te encontras

 

Coloca um cronómetro a contar

 

Lê bem alto

em silêncio

para ti

este poema

por forma a ser ouvido por todas as partes do teu ser

 

Nota que não sou eu que falo contigo

e que a mim

tão pouco

sequer

me podes imaginar

 

És tu que fantasias

e vives poesia ao vivo e em tempo real

 

Quem escreve apenas exterioriza o que o próprio sente

a menos que se coloque no teu lugar

 

O poeta real és tu que lês

sentes

interiorizas

e te pões a divagar

 

Tu que te libertas de ti

do mundo

e cavalgas no vento

 

Tu que te ergues por dentro

para viver aventuras impossíveis de contar

 

Tu que a ti muito te estimas

que não se atém a uma palavra

a um som

a uma rima

e tudo te serve para poetar

 

Tu que reduzes o espaço a um abraço

e o tempo a uma eternidade

 

Para o cronómetro agora

 

Por certo nem deste pelo tempo passar

 

Terão sido segundos

ou foi uma eternidade?

 

Estives-te aí ou noutro lugar?

 

Eu não sei

 

Apenas sei que acabaste de me abraçar

 

 

Vale de Salgueiro, sábado, 15 de Junho de 2013

Henrique António Pedro

 

 

 


sexta-feira, 17 de maio de 2024

Mandrágora


Eu nunca estive aqui

nem mesmo agora aqui estou

alguém se serve de mim

e de mim faz o que não sou

 

Alguém me enfeitiça e me atiça

me disfarça de ar e de água

de amor e de mágoa

 

Alguém me acusa

e se escusa

a me julgar

 

Eu nunca nasci

nem nunca morri

e sempre vivi noutro lugar

 

Para lá vou voltar

quando acordar

aonde

de onde

nunca saí

 

Apenas eu posso saldar esta injustiça

este feitiço de dor

pela magia do amor

 

in Introdução à Eternidade

Copyright © Henrique Pedro (prosaYpoesia)

1.ª Edição, Outubro de 2013