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terça-feira, 11 de março de 2014

Espelho parabólico



Uso este espelho parabólico
que é a poesia
para melhor me ver
e me mostrar
com fantasia

Para me aproximar
ampliar
distorcer
em esgares de estarrecer

Para me fixar nos olhos
e pelo olhar
tentar entrar por mim adentro

Para bafejar  o vidro da vida
com vapores de poesia
e deixar que as gotas condensadas
que poderão ser lágrimas
rimas
estimas
estigmas
poemas
dilemas
pingos de sangue do coração
escorram
deslizem lentas
até  me caírem na mão

Quando não sou eu próprio
com um dedo
a traçar no vapor
sulcos leves
livremente
percursos de sonho

e de amor

segunda-feira, 10 de março de 2014

Poema sem título, sem tema e sem autor



Um poema poderá não ter título

nem ter autor

sequer

muito embora não seja o caso deste

é bom de ver

 

Um poema poderá não ter tema

nem falar de dor

ou de amor

 

Poderá mesmo falar de tudo

sem nada dizer

e ser dilema

 

Um poema, porém, terá que ter leitor

mesmo que não saiba ler

 

Terá que ser sentido por alguém

mesmo que não tenha metro nem rima

não mereça a estima

nem tenha sentido para ninguém

 

Poderá ser só um rosnar

um ranger de dentes

um uivar de lobo

um grito de socorro

um estado de afasia

um apontar de dedo à estrela polar

um exercício de razão

uma exclamação de alegria

 

Um poema poderá ser um olhar tão-somente

um sentir

um devir

um dever

um presente

uma emoção

uma inocente lágrima de pranto

uma folha de papel em branco

 

Um poema, porém, terá que ter poesia

 

Amém

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 20 de Abril de 2012

Henrique António Pedro


segunda-feira, 3 de março de 2014

Meus poemas, minhas crias




Os meus poemas
são criaturas minhas
são as minhas crias

Que concebo e crio
por puro acto de criação
para minha recriação

Sem interferência de nada
nem de ninguém

Apenas na faculdade de criar
que o Criador
me deu
ainda que sempre as crie
para alguém

São crias vivas
aladas
feitas de ideias
de afectos
e de nadas

Que liberto ao vento
para que vivam no tempo
que é lá
que devem morar

Os meus poemas
são criaturas minhas
são de toda a gente

e de mais ninguém

domingo, 2 de março de 2014

Escrevendo na pedra do tempo



Há poetas que escrevem no vento
espalhando mundo fora
as taras e vaidades
que transportam por dentro

Outros escrevem suas mágoas
nas águas
esperando que o rio
despeje no mar
a sua tristeza

Os poetas maiores, porém
mesmo se já moram no Além
escrevem verdades
na pedra
do tempo

E afeiçoam o espaço
à força e beleza
do seu pensamento

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Mergulho fundo por mim a dentro





Nunca pretendi mudar
o mundo

Ouso ir mais além
ao mais fundo de mim

distender a vida
demover a morte
ainda assim

Vencer fantasmas do passado
quimeras do futuro
sobreviver às tempestades do cérebro
às catástrofes do coração
libertar-me da guerra e dos corifeus
da Terra

Acertar o meu tempo
pelo tempo da eternidade
e mergulhar

Lançar um laço de razão
um grito de angústia
a um ponto fixo no infinito
e com um pouco de sorte
enlaçar-me a Deus

Ainda que não saiba como nem quando
aonde irei parar
e em que tempo
do destino

Não há outro caminho
senão continuar
por mim a dentro



quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Porque sou o centro do Universo?



Já ao cair da tarde
levantou-se uma brisa suave
embalando a Natureza
e convidando plantas e animais
a adormecer

Depois ergueu-se no horizonte
a Lua cheia
resplandecente e grávida
em perseguição do Sol
enquanto este se escondia
sem se deixar apanhar
por não querer assumir
a paternidade

Então a noite caiu lentamente
a Lua abriu o regaço
e o lençol diáfano do Firmamento
polvilhou-se de estrelas cintilantes

Tudo isto eu vivo aqui na Terra
eternamente à espera
de adormecer
para poder um dia acordar
e poder então entender

porque sou o centro do Universo