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terça-feira, 4 de novembro de 2014

Este meu canto é um pranto


 

Já me dói o peito
deste jeito de cantar

Este meu canto é um pranto
que canto
para me olvidar

Daquela vez que sorri
sem saber o que fazia
tão pouco que me perdia
porque de amor me prendia

Agora, sim, sei
que me perdi
muito embora ainda assim
continue a cantar
este meu canto
que é um pranto
de verdade

Não por gosto de penar
ou por gozo de sofrer
deste amor que é dor
tão só para esquecer
esta sofrida saudade

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Anuncie aqui!


Talvez agora
com a crise
precise
de psicanálise

Anuncie aqui suas dores
angústias
amores
sonhos
e desilusões

As vendas estão garantidas em todos os balcões
e a sua facturação crescerá sem parar
não se irá arrepender

A menos que pretenda comprar…
também tenho para dar
e vender

Anuncie aqui, neste link:


Aberto vinte e quatro horas por dia

Como prémio receberá…

poesia

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Com poesia a mim mesmo me engano


 
 

Confidencia-me o seu segredo mais íntimo

que silencio nos ouvidos

e sepulto no coração

 

Ouso ir mais além

porém

 

Codifico o segredo em poema

e lanço-o ao vento

também

 

Ficará bem melhor guardado

ainda assim

por todo o tempo

 

Porque a poesia é a arte de enganar

com a verdade

de esconder a tristeza com alegria

de disfarçar com amizade

a paixão

 

Por isso as palavras me saem da mente

agora

em torrente

sem chama

nem drama

nem razão

 

Concertadas em poema depenado

cujas pétalas perfumam o chão

agridoce

dessa doce intimidade

com que ela me desengana

sem me causar maior dano

 

Na verdade

sou eu que com poesia

a mim mesmo me engano

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 13 de Agosto de 2010

Henrique António Pedro


sexta-feira, 17 de outubro de 2014

À sombra de uma nuvem


 

Adormeço
Prostrado
À sombra de uma nuvem
Cansado
De um pensamento mais denso

Embalado
Por uma aragem de espírito
Que me refrigera o corpo
Do sopro ardente da Terra
Envolta em guerra

Acordo
De madrugada
Na frialdade da noite iluminada
Pela luz cósmica das estrelas
Que espargem espiritualidade

A geada
Prateada
Da verdade
Não me deixa dormir

Flutuo no nada
Demente que estou
Com a mente perturbada

Que virá a seguir?

 

in Angústia, Razão e Nada

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

A diva


 
 
Olho-a em silêncio

Ouço a melodia
que ecoa
por mim a dentro

Com o seu canto
me encanto

Canção calada
música encantada
da qual
quase não nada
ouço

Bailo
enlevado
levado na fantasia

Acordo
ao último acorde
e aplaudo

E lavro
em poesia
este laudo

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Há roseiras a rosir


 

Há roseiras a rosir
agora pelo Outono
frágil entono
quando as romãs começam a rir
e os ouriços nos castanheiros
altaneiros
quase
quase
a parir

E as andorinhas
a partir

O céu
e os campos
ensaiam simulacros de Primavera
por todos os cantos
mas a cor dominante não é o verde fulgurante
pintalgado de papoilas e malmequeres
e da sensualidade desnuda das mulheres

São tons quentes de castanho
de folhas amarelecidas
que se vão desprendendo pelo vento
de árvores entristecidas
simulando alegria
em derradeiro arreganho
que é  lamento
elegia
pura poesia

Só as mães
depois que lhe morrem os filhos
não voltam mais
a sorrir