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segunda-feira, 30 de julho de 2018

UM LIVRO ABERTO NO DESERTO XII - Pietá





Sentada no chão
À entrada do adobe esburacado
De semblante alucinado
Com o filho moribundo nos braços
É uma estátua de morte viva
Uma imagem trágica
Que me tolhe os passos

No crânio da criança
A fome esculpiu uma caveira
A boca febril é pasto de moscas
Os olhos mortiços saltam-lhe das órbitas

A barriga prenhe de fome
Parece prestes a parir a morte
Já os ossos lhes rasgam a pele

A mão estendida da mãe
Rasga-me o coração
A sua súplica silenciosa
Fura-me os tímpanos
A sua agonia é a mim que primeiro mata

Que tenho eu para lhes dar?
A arma?
Um sorriso?
Uma lágrima sentida?

Dou-lhes a ração de combate
Sacio a boca febril da criança
Com a água do cantil

No rosto da mãe
Esboça-se um ténue sorriso
De esperança
Agradecida

Não tenho coragem para prosseguir
E deixá-los ali
Sós
A agonizar

Neste deserto 
Aqui tão perto
No deserto da humanidade

Algures no Deserto do Sahara)
  xviii-vii-mmix


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