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quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Escreverei poesia até à hora da minha morte



É minha sina

é minha sorte

escrever poesia até à hora da minha morte.

 

Na hora de morrer

ouvir-se-ão os sinos da minha aldeia

tanger

poesia

e as aves e as flores

cantar-me-ao ao ouvido suas dores

para me consolar

 

E uma maior alegria

exultará a minha vida

no meu coração

na hora da despedida

 

E a odisseia de viver

dará lugar

à epopeia de renascer

acórdão de redenção

 

Não deixarei de escrever poesia

e de  amar

mesmo depois de morrer

 

Vale de Salgueiro, sábado, 27 de Agosto de 2011

Henrique António Pedro


sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

A minha alma


Não é branca

ou negra

etérea

transparente

ou sequer vaporosa

a minha alma tal qual a sinto

 

É uma luz interior

cor-de-rosa

 

Um vórtice de amor dentro do meu ser que anseia tudo abraçar em redor

ao som de uma cósmica orquestra sinfónica

 

Uma vontade de congraçar a Terra inteira

o Céu

Estrelas e Galáxias

o Universo todo

e tudo devolver à vida

em explosão cósmica de amor e verdade

 

A minha alma tal qual a sinto e pressinto

mas não vejo

é um sopro de pensamento

um novelo emaranhado de afectos e pensamentos

um lampejo de eternidade

 

É uma radiação no cérebro que afago com a mão

 o pulsar do meu coração

 

A minha alma tal qual a sinto sou eu e são os meus eus

sem corpo

feitos vento

a voar

para Deus

universo adentro

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 16 de Abril de 2009

Henrique António Pedro



segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Cinderela


Tanto eu amava aquela bela Cinderela

Que gritava meu amor ao vento

Em jeito de lamento

Por dele não ousar falar a ninguém

Nem mesmo a ela

 

Respondia-me o eco

Repetitivo como um sino

Badalando o meu amor

Sem tino

Por montes e vales

Atribuindo ao meu triste destino

A origem dos meus males

 

Tanto eu amava aquela bela Cinderela

Que desenhava o meu amor na areia húmida

Da praia deserta

Feito criança

Na esperança de que lhe seria levado pelas aves

 

Mas vinham as ondas Uma a uma

Apagar os riscos fugazes

Devagarinho

E cobri-los com a sua própria espuma

 

Tanto eu amava aquela bela Cinderela

Que gravei o meu amor bem fundo

No tronco de um plátano secular

Certo de que a árvore confidente

Iria guardar o segredo para sempre

 

E ainda hoje quando por lá passo

Recordo atónito

Esse amor platónico

Afago a palavra “amo-te”

Gravada no tronco prateado

Dentro de um coração trespassado

Para enxugar as lágrimas de seiva

Que o plátano continua a chorar

 

E ouço o mesmo vento que me responde

Tangendo na ramagem silenciosa

Esta sinfonia chorosa

Sibilante de dor apesar do tempo

“Era no coração da bela cinderela que deverias ter gravado o teu amor”

 

Vale de Salgueiro, 2 de Janeiro de 2008

Henrique António Pedro

 

in Mulheres de Amor Inventadas

Copyright © Henrique Pedro (prosaYpoesia) 

1.ª Edição, Outubro de 2013


sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

À lareira

 



Fito a lareira acesa

com o coração ao fogo exposto

as labaredas lambem-me o rosto

com seu morno calor

 

São raízes que ardem

e me aquecem sem me queimar

lembranças de amantes

que me enlaçam

inebriantes

e uma após outra me vêm

beijar

 

Labaredas de lembranças

quimeras de amor

que aparecem

e me aquecem

mas logo se esquecem

fugaz fulgor

 

Estendo-lhes a mão por elas iluminada

ainda assim

sem dilema

para as acariciar

 

Guardo para mim este poema

cinza prateada de recordação

 

Vale de Salgueiro, Quinta-feira, 20 de Dezembro de 2012

Henrique António Pedro


segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Porque te amo, eu?!

 


Porque a luz do teu olhar

Me ilumina

Por dentro

 

Porque o sopro do teu respirar

Me inebria

E me dá alento

 

Porque o toque da tua mão

Me arrepia

E me acelera o coração

 

Porque a tua voz me desperta

O teu perfume me incendeia

O teu espírito me cativa

E me liberta

 

Porque és a mulher que mais me diz

E que mais de si me dá

 

Só por isto eu te amo

Ainda que sem que eu saiba

Haja uma divina razão

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 29 de Dezembro de 2009

Henrique António Pedro

sábado, 1 de janeiro de 2022

O mundo acabará no dia em que eu morrer


No dia em que eu morrer apagar-se-ão todas as luzes da Terra

e todas as estrelas do céu

o Sol pôr-se-á para não mais nascer

porque os meus olhos fechados nada mais poderão ver

 

O mundo acabará nesse dia

para mim

 

Quando eu morrer calar-se-ão os todos os canhões

os corações deixarão de bater

os meus ouvidos silenciados

tão pouco o cântico das aves poderão ouvir

 

Deixará de haver tempestades na terra e no mar

cães a latir

crianças a chorar

as flores deixarão de perfumar o ar

e de colorir os campos

porque eu não estarei lá para os apreciar e sentir

 

Todas as lembranças de criança

sonhos de glória

a história da minha vida sentida

se apagarão da memória nesse dia

 

O mundo cobrir-se-á de um manto de tristeza

sem sentido

porque morrerei sem ter sido tido nem achado

e embora viva apaixonado

ainda hoje não sei porque nasci

e também não saberei

porque morri

 

Resta-me contudo a esperança

a fugaz alegria

de que o mundo não se acabará para mim no dia em que eu morrer

se uma só boa pessoa continuar a ler

a minha poesia

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Henrique António Pedro