Tanto
eu amava aquela bela Cinderela
Que
gritava meu amor ao vento
Em
jeito de lamento
Por
dele não ousar falar a ninguém
Nem
mesmo a ela
Respondia-me
o eco
Repetitivo
como um sino
Badalando
o meu amor
Sem
tino
Por
montes e vales
Atribuindo
ao meu triste destino
A
origem dos meus males
Tanto
eu amava aquela bela Cinderela
Que
desenhava o meu amor na areia húmida
Da
praia deserta
Feito
criança
Na
esperança de que lhe seria levado pelas aves
Mas
vinham as ondas Uma a uma
Apagar
os riscos fugazes
Devagarinho
E
cobri-los com a sua própria espuma
Tanto
eu amava aquela bela Cinderela
Que
gravei o meu amor bem fundo
No
tronco de um plátano secular
Certo
de que a árvore confidente
Iria
guardar o segredo para sempre
E
ainda hoje quando por lá passo
Recordo
atónito
Esse
amor platónico
Afago
a palavra “amo-te”
Gravada
no tronco prateado
Dentro
de um coração trespassado
Para
enxugar as lágrimas de seiva
Que
o plátano continua a chorar
E
ouço o mesmo vento que me responde
Tangendo
na ramagem silenciosa
Esta
sinfonia chorosa
Sibilante
de dor apesar do tempo
“Era
no coração da bela cinderela que deverias ter gravado o teu amor”
Vale de Salgueiro, 2 de Janeiro de 2008
Henrique António Pedro
in Mulheres de Amor Inventadas
Copyright © Henrique Pedro
(prosaYpoesia)
1.ª Edição, Outubro de 2013