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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Quando o coração arde de amor sem se consumir


Quando o coração arde de amor sem se consumir

aquece sem queimar

e ilumina sem ofuscar

 

A mente dispensa a matemática

para bem contar

a poesia não precisa de gramática

tão pouco de rimar

os olhos não carecem de luz para ver

à boca não falta o pão para comer

e matar a fome

nenhuma tristeza nos consome

a paz não requere guerra para se afirmar

ninguém tem que matar para sobreviver

 

Quando o coração arde de amor

sem se consumir

jamais a paixão será ilusão

nada na vida é para esquecer

tudo é para recordar

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 5 de Maio de 2010

Henrique António Pedro


domingo, 17 de novembro de 2024

A arte de ainda mais amar depois



A arte de ainda mais amar depois

e de mais sofrer

com fantasia

mesmo sem querer

depois que tudo se consumou

é a poesia

 

Quando a alma se parte

e reparte

depois que se perdeu

o amor

e se deixou

de sofrer

 

A poesia

é a música do silêncio e da solidão

a pintura sem tintas nem pincel

a escultura sem pedra nem cinzel

o desenho sem carvão

 

E o poeta é o artista

que continua a amar

quando já não tem amor

em seu coração

que continua a sofrer

quando já não sente dor

tudo se reduz a poesia

 

É o amante à procura de mais amor

pelo prazer de sofrer

o malabarista da alegria

 

E a poesia

é a arte de mais amar ainda

e de mais sofrer

depois

 

A sós

a dois

a mais

sempre

nunca

ou jamais

 

Depois

 

Vale de Salgueiro, sábado, 28 de Maio de 2011

Henrique António Pedro

 


 


sexta-feira, 15 de novembro de 2024

A medida Eternidade



Eternidade é medida de tempo

Infinito é medida de espaço

O bater do coração não passa de um ritmo

Pouco mais que uma extensão, é um abraço

 

De quantas pulsações se compõe, então

A Eternidade?

E de quantos abraços o Infinito é feito?

 

O coração me diz, contrafeito:

Eternidade e Infinito

Existência e dor

Têm a amplidão da Verdade

E tudo se reduz à dimensão do Amor

 

Vale de Salgueiro, 6 de Maio de 2008

 

Henrique António Pedro

in Angústia, Razão e Nada ( Editora Temas Originais-2009)

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Que expludam mil poemas de amor sobre toda a Terra



Oh! Quem me dera que as minhas palavras fossem encantadoras

Que fossem sedutores os meus versos

Que houvesse magia na minha rima

Que fosse mágica a minha poesia!

 

Os meus poemas explodiriam como bombas de amor

em todos os universos

por sobre toda a Terra

fariam valer a verdade

acabariam com a gierra

 

Porque os desgraçados

amordaçados

por si sós

não falam

 

Gesticulam desesperadamente gestos de sofrimento

palavras de socorro

gritos de alerta

esgares de angústia

 

Ninguém os ouve

ninguém os vê

nem se fazem sentir

ninguém sente a sua dor

 

Enquanto os magos do mundo

desvairados

gritam, mas nada dizem

vociferam impropérios

ao serviço dos impérios da mentira

mas são mudos

 

Vêm mais do que é mas são cegos

são surdos, mas escutam os ruídos mais insanos

acreditam sem terem fé

mentem mesmo se falam verdade

não têm fome

mas comem

comem

até mais não poder

 

Não são humanos

 

São piores que os piores animais

 

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 29 de Julho de 2011

Henrique António Pedro

 

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

O maior do mundo


Não sou eu o maior do mundo

tão pouco o desejo

ou o quero ser

mas…

 

Olho-me ao espelho

e embora me não veja

porque sou muito mais que imagem

gosto do que vejo

 

Gosto

porque vejo o brilho da poesia

no meu olhar

e nos meus poemas projecto

a minha infinita capacidade de amar

a irrecusável predisposição

do meu coração

para se dar

de verdade

 

Gosto do que vejo

porque amo o Céu

a Terra

o Mar

a vida

a Humanidade

 

Gosto

porque amo de mil formas

imensa gente

embora assim de repente

apenas me lembre

daqueles a quem amo mais

 

Olho-me ao espelho

e embora me não veja

porque sou muito mais que imagem

gosto do vejo

 

Embora lá no fundo

não me pareça

que eu seja

o maior do mundo

 

 Vale de Salgueiro, sexta-feira, 19 de Novembro de 2010

 Henrique António Pedro

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Aqui tão perto de nós o além



Lá longe

calados

os soldados não choravam


Não porque não tivessem lágrimas

mas porque de nada lhe valia chorar

 

Depois havia sangue

suor

e saudade

bastantes para os calar

 

Ainda assim

o menino soldado

chorava baixinho

angustiado

por ter medo de morrer

e não poder voltar

 

Aqui tão perto de nós o além

só dá para lá ir

e não voltar

 

Por isso a mãe do soldadinho

que chorava baixinho

em permanente oração

não parava de o chamar

para mais perto

do lar

 

Aqui tão perto de nós o além

já ali ao voltar da esquina

à distância pequenina

de um apertado aperto de coração

 

Aqui tão perto de nós o além

dava para lá ir

mas não dava para voltar

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 16 de Junho de 2011

Henrique António Pedro