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quarta-feira, 21 de maio de 2014

Pedra de sonhar



Sinto o corpo inteiro
a levitar
sem da alma
se separar

Agarro-me desesperadamente a mim
sinto medo de voar
assim

Flutuo como pedra
no ar
por entre as nuvens

Penedo
medo pesado
ejectado no sonho

Enorme
disforme
a rasgar a Razão

Força da explosão
que implode o coração

Pesadelo
pedra de sonhar
miragem

Antes fosse folha
pétala
pena
etéreas como o pensamento
que a mais leve aragem
o mais brando vento

fizesse voar

terça-feira, 13 de maio de 2014

É de mim que menos sei







Julgo saber tudo de mim
mas não será tanto assim

Não tenho grandes dúvidas do meu passado
apesar das muitas coisas que já esqueci

Lembro-me bem do sítio onde nasci
do meu percurso

Corri mundo
viajei
vi
vivi
senti
amei
sofri

Estudei
aprendi conhecimentos sem fim
artes
ciências
técnicas

Conheci pessoas
lugares
mas é de mim que menos sei

Pouco ou nada sei de mim!

E que me importa saber que a Terra é redonda
que os astros se movem no Universo
e coisas assim
se pouco ou nada sei de mim?

Quando me for dado conhecer-me
saber tudo de mim
saber quem verdadeiramente sou
por detrás de um registo civil
perdido entre tantos mil…

Saber o que faço aqui
e para onde vou
então sim tudo saberei
todos os mistérios se revelarão
e todas as dúvidas cessarão

Saberei se o Além existe
se é finito ou infinito
o Universo
e qual é o seu reverso
que coisas são o Espaço e Tempo
o Amor e a Verdade
a Santíssima Trindade

É a mim que eu procuro conhecer
a chave de tudo está em mim

…Sou eu!

domingo, 11 de maio de 2014

Será uma glândula avariada?





Uma angústia larvar
me apoquenta
desde que me conheço
e que em vão
procuro decifrar

Não é problema de salário
ou de pão

Muito menos da conta da electricidade
da falta de fama ou a de glória
ou de males de coração

Sinto-me feliz fora da História
e se a energia eléctrica falhar
passarei bem sem internet ou televisão
porque tenho o sol para me alumiar

Amor?!
Tenho muito para dar
não para vender
e pão…
até ver não tem sido preocupação

Também não tenho
tanto quanto sei
qualquer glândula avariada
e o meu cérebro não sofreu nenhuma pancada

São coisas mais complexas
e etéreas
que me afligem
e não sei explicar

E que tento converter
em poesia

embora com alguma fantasia

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Quereria ser eu a ler os meus poemas



Quereria ser eu a ler os meus poemas
uma só vez que fosse
se tal possível fosse
para melhor sentir o travo agridoce
de não ter escrito o que queria
escrever

Abrir o livro
ou a página da internet
e deparar com eles sem os conhecer

Sentir o efeito de surpresa
melhor avaliar o seu peso
e a sua leveza
a sua verdade
e originalidade
e poder rever-me neles
com se num espelho me reflectisse
ou numa fotografia me retratasse

Ou talvez não
quem sabe se com eles deparasse
sem os conhecer
nem sequer me desse
para os ler

Pura imaginação
aos meu poemas sempre os escrevo
e reescrevo
leio
e releio
e neles me enleio
com o coração

Os meus poemas são tudo que sou
ninguém mais os poderá escrever

que não eu

sábado, 19 de abril de 2014

Porque vivemos, se morremos?!






Porque amamos se sofremos?!

Porque nos angustiamos se daí nada resulta
e nenhum sacrifício tem sentido?!

Porque escrevemos poesia
se por essa via
não se aplaca
o mal
do Mundo?!

Porque existimos
se Deus não existir?!

E porque vivemos
se morremos?!

Talvez porque sofremos
para aprendermos a amar
e a angústia
e a poesia
sejam só indícios
de uma felicidade maior

Talvez porque Deus exista
e nós não morramos


Só poderá ser!

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Ecos e reflexos do Criador



Gosto de orar na ideia de que adormeço

no umbral do pequeno templo da minha aldeia

e viajo Cosmos além

livre de todo o mal

 

A sonhar que a mão de Deus me afaga

e me faz Revelações

como fazia minha mãe

quando menino me aconchegava no seu seio

ciciando-me doces melodias de amor e de encanto

como se eu fora um santo

um deus pequenino

 

Eram ecos e reflexos do Criador

 

O meu pensamento voava por dentro do sonho para fora do sono

e o meu espírito vogava pelo Universo

iluminado pela luz do seu coração

 

Tento agora ouvir de novo os mesmos ecos

ver os mesmos reflexos

no umbral do pequeno templo da minha aldeia

na ideia que é o regaço de minha mãe

 

Não encontrei, até hoje, melhor forma de me interrogar

outro verso e anverso das agruras da vida olhar

sem me sentir vazio, naufrago do nada

sem me angustiar

 

Era Deus que descia do Céu para me falar de Si

com suavidade

mesmo ali

no limiar da Eternidade

 

Era eu que a dormir despertava por dentro

mergulhava no mais profundo de mim

descobria o meu caminho

e me transformava em profeta daquele espaço

naquele tempo

 

Para lá do umbral do pequeno templo da minha aldeia

pregada na parede mais umbria

 ergue-se, porém, uma Cruz

lustrada pela luz trémula de uma candeia

que ilumina de divino o destino sonhado

 no regaço de minha mãe

 

Sonho agora acordado como quando criança

no umbral do pequeno templo da minha aldeia

na ideia que é o regaço de minha mãe

adormecido na Fé e na Esperança de um dia acordar

 

Henrique António Pedro

 13 de Setembro de 2006

In Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)