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quinta-feira, 19 de junho de 2014

Ninguém comanda o coração






Ousa persuadir-me a que a ame
com gestos ousados
de sedução

Eu tento dissuadi-la de que me ame
e de que pretenda que eu a ame
com gestos forçados
de desdém

Nem ela
nem eu
porém
sabemos como este jogo vai terminar

No amor não existe persuasão
nem dissuasão

Apenas há o momento certo
imprevisto
de amar
alguém


Ninguém comanda o coração

terça-feira, 10 de junho de 2014

De nada serve a luz do dia se nos amamos à noite






Fecho os olhos
para melhor a ver
com as minhas próprias mãos

Tenho gravado no cérebro
o seu olhar sedutor
e para melhor a ver
abro olhos em cada dedo das mãos
em cada poro da pele

Os meus ouvidos ouvem tudo o que tem para me dizer
diga-o ou não
mesmo quando em silêncio
se entrega à devassa dos meus braços
ao esquadrinhar dos meus dedos

Ademais o seu corpo ganha fluorescência de tanto prazer
e acaba por iluminar o meu

Nada mais temos para ver
ouvir
dizer
apenas e só
sentir

Senti-la
eu
a ela
sentir-me
ela
a mim

De nada serve a luz do dia
se nos amamos à noite
na doce obscuridade da mais estreme intimidade
e em silêncio
com esfuziante alegria
interior


Em transe de êxtase

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Em que alvorada irá meu espírito despertar?



In Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)

 

Exausto

limito-me a deixar-me adormecer

sem saber

nem tão pouco me preocupar

quando

como

e aonde irei acordar

 

De pronto

entro a sonhar

 

Sonhos súcubos

coloridos

doridos

alma e corpo a guerrear

 

Fenómenos oníricos

pensamentos empíricos

que tento em vão traduzir

agora já acordado

enredado no insolúvel trilema

deste poema

 

Sou, contudo, levado a deduzir

que sempre que sonho a dormir

é o corpo que sonha

e a alma

que tenta acordar

 

E que sonha o espírito

quando vivo

de verdade

no corpo e na alma

sonho ou realidade

 

Por isso anda a minha alma angustiada

a pretender saber

em que alvorada

irá meu espírito despertar

 

Vale de Salgueiro, domingo, 26 de Agosto de 2012

Henrique António Pedro

 

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Diz-se do ódio o que se diz da paixão



Amar
amamos pessoas verdadeiras
e inteiras

Não amamos só um rosto
um braço, uma perna, uma mão
tão pouco só um corpo, um estatuto
sequer só um coração

Amar
amamos algo de imanente
permanente e transcendente
desconhecido
distendido
que não se encobre nem disfarça
e não nos embaraça

Daí que o motivo do nosso amor
possa estar numa mulher
num homem
num ente escondido
velho, novo, doente ou são

Já a paixão não!

A paixão tem rosto
e tem corpo
tem perfume
utilidade
irradia sensualidade
gera ciúme
é obceção

Apaixonar
apaixonamo-nos por uma pessoa concreta
que em nós desperta moléculas
de vício
de prazer e atracção
ou de alienação
embora com fantasia

Pessoa que nos inquieta
nos arrelia
basta um indício
uma indisposição


Por isso se diz do ódio

o que se diz da paixão

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Do Amor e da Razão



A

(Heptassílabo ou redondilha maior)

Entendeu o Criador

Envolver-nos em mistério

Entre agruras e dor

Com Amor por refrigério

 

O prazer é sal da vida

O sabor do bom viver

Mas a vida mal vivida

Tudo deita a perder

 

É nesta escuridão

Que devemos caminhar

Porém, à luz da Razão

 

Para nos alumiar

Com Amor no coração

Também o Bem praticar


B

(Decassílabo)

Entendeu Deus, o nosso Criador

Envolver-nos em pesado mistério

Adoçado nas agruras da dor

Pelo Amor, divino refrigério

 

O Amor é, assim, o sal da vida

Sabor e alegria de viver

Mas o prazer da vida mal vivida

Tudo poderá deitar a perder

 

Porém, ante tanta escuridão

Para melhor podermos caminhar

Também Deus nos deu a luz da Razão

 

E para melhor nos alumiar

Outra luz acende no coração

A quem o Amor, por bem, praticar

 

terça-feira, 27 de maio de 2014

Se o poeta amasse sinceramente






Se o poeta amasse
sinceramente
não faria do amor
poesia

Limitava-se a amar
tão somente
amar não é fantasia

Se o poeta sofresse
verdadeiramente
não faria da dor
poesia

Limitava-se a sofrer
como toda a gente
sofrer não é filosofia

O poeta não sofre suas dores
nem ama seus amores
ama e sofre as dores e os amores dos demais

O poeta só é sincero quando escreve versos de combate
poemas intemporais
por toda a parte
sejam de amor
de dor

ou de alegria