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segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Poema lamento de uma mulher afegã

 



Quem me dera poder postar os meus poemas

E dar a conhecer ao mundo

Livremente

Os meus dilemas

Fazer ouvir a minha voz

Por toda a Terra

Ainda mais alto que os terríveis acordes de guerra

 

Quem me dera poder amar e ser amada

Viver o dia-a-dia e ver o dia

Como uma repetida madrugada

Liberta de véus e de vendas

Das leis horrendas

Que me convertem em vil

E abjecto

Objecto

 

Quem me dera poder ser possuída por amor

Sem ser posse de ninguém

E de ter alguém a quem ter

Sem correr o risco de morrer

 

Quem me dera poder banhar-me no mar

Desnuda

E correr pela praias

Livre das minhas saias

 

Quem me dera poder namorar nas noites de luar

Deitada na areia

Nua como a Lua

Ser dona do meu corpo

E poder correr o risco de engravidar

Sem me sentir constrangida a abortar

 

Oh, como eu gostava de poder sonhar!

De ousar ser livre

De contestar o profano e o divino

De criar e procriar

Votar

Viajar

E ser dona do meu destino

 

Por agora sou apenas mulher

E não sou nada

Nem ninguém

 

Mas um dia serei mais que mulher

E serei tudo

E serei mãe

 

Afeganistão, Cabul, 30092005

Daniel Rio Livre

 (Repórter de guerra fictício)


sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Amarei no seu mar de amor


O seu coração era uma ilha

no mar da minha solidão

 

Onde eu poderia amarar

para a amar

sem temor

mas não sabia

 

Oh, como fui demente

não a vendo

sofrendo

de amor

por mim

entre tanta gente!

 

Mas agora que a vejo

e desejo

e a sei pura

e linda

e a sua candura

me encanta

amarei

por fim

nesse seu mar de amor

 

E a amarei

assim

para sempre

 

Terna

e eternamente

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 3 de Dezembro de 2010

Henrique António Pedro


sábado, 24 de julho de 2021

Etereamente nua


Ela brincava com o fogo

com que me incendiava

 

Eu despia-a com o olhar

 

Não era amor
era lampejo de gostosura

desejo de a ver

nua



Ela à minha frente se desnudava

linda de morrer
entre sorrisos e trejeitos lúbricos
o viço dos seios túrgidos
a tentarem-me

com prazer

Oferecia-se amorosa
insinuante

melíflua

de falas meigas
graciosa

com golpes de cintura
fina
maneiras requintadas
nádegas roliças
coxas torneadas

Quando, por fim, se mostrou despida
oferecida
etérea

nua

eu cobri-a com poesia


Oh que dilema!

 

Que outro epílogo poderia ter o poema?!



Vale de Salgueiro, 24 de Maio de 2008
Henrique António Pedro


segunda-feira, 19 de julho de 2021

Diluo-me no tempo

 


Qual rio a correr

para o mar

sem saber em que oceano

ou lago

se irá transformar

também eu

estou

a caminho

 

A carne e os ossos dissolvem-se-me no húmus

que os criou

prazeres e dores nos fumos

do anoitecer

acto trágico de morrer

 

Eu diluo-me no tempo

transformando-me em pensamento

sem saber o que sou

tão pouco para onde vou

 

Tornarei

feito nuvem

trazido nas asas do vento

para em poesia

de novo

me precipitar?

 

Ficarei

eternamente

por lá

no ar

sem mais dor

apenas a mais a amar?

 

A certeza

a tenho

de morrer

não a de desaparecer

 

Porque se assim fosse

não havia existido

sequer

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 26 de Outubro de 2010

Henrique António Pedro 

In Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)

Depósito legal:  404160/16

ISBN:  978-989-97577-52



domingo, 11 de julho de 2021

Continuo à espera de um sinal


Venha ele de onde for

venha de dentro

ou de fora

continuo à espera de um sinal

 

Seja um cicio

um sorriso

um compromisso

um olhar

um beijo

um lampejo de desejo

um abraço apertado

 

Talvez um fenómeno inesperado

um sussurro de vento

uma ideia avivada

um lampejo de luz

que ilumina

cativa

seduz

e faz acreditar

 

Talvez o testemunho de alguém

que também continua à espera

por sinal

de um sinal

 

De um fogo de amor no coração

do fim da dor

da chama da iluminação

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 19 de Outubro de 2010

Henrique Pedro


sábado, 3 de julho de 2021

Agora ando a aprender a pensar


Andei a vida inteira

a aprender a melhor maneira

de bem raciocinar

 

Oh, que grande asneira!

 

Aprendi a soletrar

palavras e letras

a ler

e a escrever

 

Tretas!

 

Aprendi números e algarismos

a contar

somar

subtrair

multiplicar

e dividir

 

Calculismos!

 

Devorei compêndios de gramática

e de matemática

poesias e analogias

tratados de ética e de lógica

físicas e filosóficas

 

Fantasias!

 

Aprendi a falar verdade

e a mentir

a ficar e a fugir

a tocar violão

a matar ou morrer

a sobreviver

 

Socialização!

 

Agora ando a aprender a pensar

e a amar

para me libertar

e salvar

 

Sem números ou letras

nem outras petas e tretas

 

Iluminação!

  

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 3 de Outubro de 2012

Henrique António Pedro