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quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Que prazeres da vida irão além da morte?

 


Se os braços

os lábios

as mãos

o coração

se quedam por cá um dia

enterrados na terra fria

e na passada se desfazem em nada

então que acontecerá aos beijos

aos afagos

aos abraços de paixão?

 

Passam do estado de gozo ao de recordação

depois evolam-se com o vento

e acabam no esquecimento

 

Que prazeres da vida irão

então

além da morte?

 

Só poderão ser os prazeres que o espírito envolve

fascinado

e que a alma também transporta

em seu vapor de amor

tais como ler poesia com alegria

 

O maior de todos os prazeres, porém

é

verdadeiramente

amar e ser amado

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 25 de Novembro de 2009

Henrique António Pedro

 

 

domingo, 29 de outubro de 2023

A quem me lê me confesso


Humilde poeta confesso

sempre falo de mim na poesia que escrevo

por não saber guardar segredo

 

Mesmo quando de mim nada digo

porque de mim nada sei

 

Mas mais de mim digo naquilo que de mim escondo

sem querer

do que naquilo que de mim tento não dizer

ou no que a mim mesmo escondo

sem saber

 

Mas quem me souber ler com perspicácia

vencerá a minha audácia em me esconder

e mais do que eu mesmo

de mim mais ficará a saber

 

De mim próprio apenas sei

confesso

que não sou não o poeta que penso

mas o poeta professo que ainda assim

gostaria de ser

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 9 de Outubro de 2008

Henrique António Pedro

 

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

AVÉ MARIA DE FÁTIMA


Não Se fez anunciar ao Papa

aos poderosos da Terra

às televisões e aos jornais

não teve guardas de honra

tão pouco trombetas angelicais

 

Por isso

eu

na minha humildade

sempre que passo por Fátima

na autoestrada do Norte

sem que nada mais me importe

sem outra razão aparente

interrompo a marcha de repente

 

Para me ir ajoelhar aos pés de Maria

sem intenção de nada Lhe pedir

apenas pelo prazer de reflectir

e de um santo Rosário rezar

 

Voo em silêncio por mim adentro

aliviado do meu fadário

ganho ali alegria

um novo alento

 

É Fé na verdade o que sinto

e ao que penso

um desejo de amor imenso

 

Vale de Salgueiro, sábado, 25 de Outubro de 2008

Henrique António Pedro

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Puro, Nu e Cru


Dispo a Alma

alijo a Razão

calo o Coração

e sigo em frente

puro, nu e cru

como se acabado de sair ventre

de minha mãe

 

Transfiguro-me em massa amorfa

sem vida nem esperança

em fraga

nuvem

gota

gás

 

Os poemas que escrevi

diluíram-se no vento

das rimas nada mais resta

 

Dos caminhos que trilhei

já o meu rastro se apagou

 

Se tento morrer

noto

porém

a impossibilidade de o fazer

porque ninguém é capaz de se matar

e de se apagar do Cosmos

com ou sem dor

só mesmo o Criador

 

Sou espírito acima de tudo

de novo me transmudo

 

Por isso amanhã lá estarei de novo

na terra que me espera

no chão em que vegeta meu coração

a viver com poesia

a alvorada de mais um dia

 

E depois de amanhã também

indiferente ao vento

à chuva

e ao frio

 

Puro, nu e cru

 

E a sonhar!

 

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 20 de Janeiro de 2010

Henrique António Pedrodro

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

A mim, nenhuma explicação me foi dada


Eis-me aqui!

 

Ninguém me disse para o que vinha

nem se alguém estaria à minha espera

 

Ninguém me perguntou quem eu era

que país

que cor

que língua eu escolhia

em que mares eu queria navegar

em que ares desejaria voar

 

Terra

deram-me Terra

e mais Terra

Céu e mais Céu

para ser eu a desbravar

 

Nenhuma explicação me foi dada

 

Porém

alguém me abriu com amor a consciência

e eu por mim deduzi

também

que ideia sem afecto é fraco tecto

é má ciência

 

Alguém que me pôs luz no coração

sublime opção de Redenção

 

Foi Cristo que me disse para onde vou

e como irei terminar

por isso entendo eu

ser legitimo acreditar

que não irei morrer

pelo que a minha opção

só pode ser

viver e amar

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 6 de Agosto de 2010

Henrique António Pedro

 

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

História de um amor tresmalhado

 



Não foi o vento não

 

Foi uma lufada da mais cruel verdade

um ciclone de desilusão

que soprou pelo Outono

na alma indefesa

demasiado presa

ao coração

 

Foi uma aragem de angústia

um sopro de saudade

eriçada a destempo

em tempestade

 

A chuva dissolveu os versos

o vento dispersou as palavras

 

E as sílabas voaram feitas folhas soltas

por entre ruídos

de ideias rasgadas

 

Que nas voltas e reviravoltas da amargura

retornaram à razão

entristecidas

com o espírito votado ao abandono

esfrangalhado

roído de dor

caído na loucura

 

Restou

este poema memória

história triste

crua

de um amor tresmalhado

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 17 de Abril de 2009

Henrique António Pedro