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sábado, 15 de junho de 2013

É o fim do mundo



Dizem que o fim do mundo
está para breve
e que irá começar
lá pelo Oriente
onde a gente
é mais impenitente
e vive apenas para trabalhar

Nós por cá
pelas terras do Ocaso
teremos, assim, um certo tempo
adicional
para nosso bem ou nosso mal
nesse ínterim

O fim do mundo chegará aqui
om um certo atraso

Previamente alertados
teremos tempo para reflectir
e decidir
se nos pomos ou não a fugir
e para onde

O tempo suficiente
para evitarmos o pior
e muita gente se salvar

Será o fim do mundo
não o fim da gente

Aqui deixo este ilógico
aviso escatológico
que só deverá ser tido em conta

em caso de aflição maior

sexta-feira, 14 de junho de 2013

A irrelevância de Deus



Existir ou não existir
Deus
ser ou não ser
sob que condição for
não é a questão maior

No meu humilde entender
será irrelevante
até
porque Deus poderá dar-Se ao luxo
de nem ser
sequer

Tanto que deixa ao livre arbítrio
de cada um
Nele acreditar
ou não

Não deixa porém
de nos apontar o caminho
para que sejamos nós a reconstruir
o nosso próprio destino

Dá-nos a matéria para tanto
que é o Amor

O método
que é o Bem

E o cadinho também
que é a Dor

Este é
o tripé

de toda a Fé

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Rio Atlântico



Outrora foi um mar
o oceano Atlântico

Que as caravelas ousaram devassar
para pescar
saudade

Agora é um rio
de fantasia

Em cujas margens há poetas a pescar
poesia
e a acenar
Amizade

Um rio florido
de letras
rosas e violetas
de poemas
de todo o ano

Agora é um cântico
um oceano
um mar
o rio Atlântico

Que os poetas a toda a hora
ousam atravessar

tão só para se abraçar

terça-feira, 11 de junho de 2013

Meus poemas são como pardais





Meus poemas são como pardais
fazem o ninho nos beirais
de qualquer jeito

A nenhum enjeito
mas há os que prefiro esconder

Outros que me apetecer dar a ler
com sofreguidão
mal acabo de os escrever

Mas também há os que saem porta fora
sem sequer de dizer adeus
para não mais voltar

São poemas cruéis
desalmados
triunfantes
que partem sem dizer para aonde vão
e me partem o coração
como amantes
infiéis

Desses apenas fica uma ferida
na minha poesia sofrida

E há os que timidamente largam o ninho
como pardais em seu primeiro voo
e depois que aprendem a voar
voam livres
mas continuam sempre a cirandar
por perto
no meu afecto

Mas há ainda mais
os que me abandonam sorridentes
plenos de confiança
votados a gozar a vida
esbanjando todo o talento herdado
mas acabam por voltar
tristes
envergonhados
qual filho pródigo
caído no opróbrio

A todos abro a porta
dou guarida
e recebo no coração
mas aqueles que guardo escondidos
sãos os meus preferidos
de que dificilmente

abrirei mão

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Escrevam poemas estúpidos, seus estupores!



Todo o poeta que se preza
escreve poemas estúpidos
sobretudo quando escreve poemas de amor
e paixão

O poema mais estúpido
todavia
será um dia
escrito por um poeta de verdade
em sua perfeita razão
e causará um completo estado de torpor
na Humanidade

Já se imaginaram a ler
ou simplesmente a ouvir ler
na versão original em língua materna
o poema “ O céu estrelado em Haergai”
do poeta chinês contemporâneo Xi Chuan
expoente da poesia chinesa moderna?

Ou o chefe índio cheyenne Touro Sentado
a declamar os “ Lusíadas” aos seus guerreiros
depois de vencer o general Custer
na batalha de Little Bighorn?

Para mim o poema mais estúpido da actualidade
já está escrito, porém
e é genial
embora se conheça mal
o estupor do seu autor
ou a sua nacionalidade
como convém

Tem o título “www”
um só verso de um só símbolo
o símbolo “@”
dito arroba
no idioma português
mais conhecido por “at sign” no inglês
que não rima com nada
não tem nexo
nem mete sexo
nem sabe a açorda

É o poema mais lido e transcrito
hoje em dia
e “linka” toda a poesia

Bem!
Escrevam os vossos poemas estúpidos
seus estupores
maníacos
façam alguma coisa de bem
pela Humanidade

Talvez um dia os vejam transcritos
para caracteres chineses ou siríacos
e premiados mesmo sem concorrerem a concurso algum


Ou proscritos da poesia

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Com a enxada da Razão na mão



Algo me compele

Me puxa
e me empurra

Será Deus?
Será o amor?
Será a angústia?

De pés descalços
e com a enxada da Razão
na mão
esgaravato a pele
cavo-me por dentro
garanto o meu sustento
com o suor do corpo
e o sopro
Dos pulmões

Semeio poemas no vento
que não sei aonde irão poisar
se não morrerem sepultados
à partida
por mim rejeitados

O meu melhor húmus
está no coração
bem no âmago de mim
onde cultivo um jardim

de afectos perfumados