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sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Avé Maria (Bach, Gounod e Helene Fischer)


Algum querubim

por certo

dentro de mim

instante

me chama

 

Desperto!

 

Abro a janela de par em par

de pronto o Cosmos inunda o aposento

de rompante

 

Um vento de luz sopra raios rosa desde o Sol nascente

a alvorada entra luminosa no meu coração

que canta vitória

 

Os acordes espirituais de Bach e Gounod

complô de anjos e arranjos divinais

envolvem-me em explosão de alegria

e glória

 

Nos sons suaves dos violinos

ouço o ondulado de colinas verdejantes

salpicadas de papoilas e malmequeres

a energia telúrica que emana da Terra

força de paz que silencia a guerra

 

Os toques metálicos do piano

qual tilintar das estrelas a cintilar

não cessam de me encantar

 

A melodia me inebria

o meu corpo se quebranta

sinto-me a pairar

no ar

 

Mas é após que a diva Helene Fischer sua divina voz alteia

exaltando a perene santidade de Maria

galileia de Nazaré

que a minha alma se incendeia

na vertigem da Fé

 

Já não mora mais ali pois se evola

livre dos humanos misteres

e se empola

em êxtase de espiritualidade

e poesia

 

E também eu canto o sacrossanto canto

 

Avé Maria

cheia de graça

o Senhor é convosco

bendita sois Vós entre as mulheres 

e bendito é o fruto

do Vosso ventre

Jesus

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 14 de Setembro de 2009

Henrique António Pedro

 

 

 

 

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Poesia. Tão só. Nada mais.



Poderá nem ser

sequer

murmúrio

 

Poderá ser

somente

pensamento solto

palavra desbocada

lançada ao vento

perjúrio

ainda assim

 

Ideia que a passar

de mão em mão

poderá dar volta à Terra

haja paz ou haja guerra

 

Pomba de paz

borboleta de ilusão

quiçá falcão de guerra

grito da mais obscena miséria

 

Poderá ser flor

antúrio perfumado

jasmim sem jardim

arrulho de namorado

 

Poderá ser palavra perfumada

trabalhada com dor

amor

dilema demente

 

Poderá ser o que aprouver

indiferente ao que vier

e ao demais

 

Será apenas poesia

sempre e sem dó

 

 Nada mais e tão só

 

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 6 de Novembro de 2008

Henrique António Pedro

 

sábado, 30 de novembro de 2024

Agora outros galos cantam pela madrugada



O relógio da sala tocou a nota musical introdutória

com poesia

embora igual para todas as horas certas

ou incertas

(os quartos e as meias têm outra melodia)

e depois deu doze sonoras badalas

espaçadas

metálicas

marteladas

 

Entristece-me que os mestres relojoeiros de relógios analógicos

não hajam construído mais relógios zoomórficos

para lá dos cucos a que damos corda

para que continuem a cucar

mesmo que não seja à hora certa

e o seu canto

pela certa

não vá ninguém

acordar

 

Concorrendo com os modernos “timers” digitais

dos anúncios de néon feéricos nas avenidas

de dígitos a piscar no ar

virtuais

com quantas casas decimais se pretender

em consonância com o que se quiser comprar

ou vender

 

Preferia continuar a ouvir os relógios analógicos a badalar

em contraposição à insana inovação

que põe milhares de relógios digitais a piscar

por toda a parte

acelerando o tempo destes tempos intemporais

e obrigando as pessoas a correr

mais e mais

 

Ainda assim

quanto a mim

todos andamos dessincronizados com o Universo

presos à sincronia de um mero verso

 

Por isso preferia ouvir os relógios analógicos badalar

crocitar

cucar

e porque não

balir

para me despertar

pela madrugada

 

Como quando era o galo

madrugador

que com seu estridente estertor

anunciava a alvorada

 

Vale de Salgueiro, sábado, 2 de Maio de 2009

Henrique António  Pedro

 

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

A paixão não leva a lado nenhum



Deixo-me ficar parado

mudo

ensimesmado

a ver a chuva cair

embora sem sequer a sentir

 

O meu pensamento, porém, anda por perto

bem por dentro de mim

e nem mesmo a mais forte rajada de vento

me faz acordar

e regressar

à realidade circunscrita

 

É como se eu fora um eremita

orando

resguardado das tempestades do tempo

e do trovão do seu coração

 

Que passa os dias parado

meditando

ensimesmado

a ver a chuva cair

embora sem sequer a sentir

por saber que a paixão

nesse ínterim

não leva a lado nenhum

mas o amor

sim

 

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 15 de Abril de 2010

Henrique António Pedro

 

 

sábado, 23 de novembro de 2024

Hoje, futuro de ontem, passado de amanhã.


Demoro-me a pensar

no presente

no passado

e no futuro

em todos os tempos

por momentos

eu fico a morar

 

No futuro ainda não vivido

no presente sofrido

no passado recordado

 

Vivo de sonhos

de lembranças

de esperanças

das sensações que a cada momento

o mundo me causa

sem pausa

de pensamento

ou sentimento

 

Não foi igual ao de anteontem

o meu futuro de ontem

 

Nem o meu futuro de hoje

será igual ao de amanhã

nem o de amanhã

será igual ao de depois de amanhã

de todos ando ausente

 

Nem o meu futuro do futuro

será igual ao futuro presente

 

Só na minha mente malsã

o futuro de ontem que não é o presente

será o passado de amanhã

 

Futuro eu

que não sei que futuro

Deus me deu

  

Vale de Salgueiro, terça-feira, 9 de Outubro de 2012

Henrique António Pedro

 

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Quando o coração arde de amor sem se consumir


Quando o coração arde de amor sem se consumir

aquece sem queimar

e ilumina sem ofuscar

 

A mente dispensa a matemática

para bem contar

a poesia não precisa de gramática

tão pouco de rimar

os olhos não carecem de luz para ver

à boca não falta o pão para comer

e matar a fome

nenhuma tristeza nos consome

a paz não requere guerra para se afirmar

ninguém tem que matar para sobreviver

 

Quando o coração arde de amor

sem se consumir

jamais a paixão será ilusão

nada na vida é para esquecer

tudo é para recordar

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 5 de Maio de 2010

Henrique António Pedro