Talvez
minha mãe
quando
eu ainda era menino
me
tenha estreitado com ternura demais, em seu seio
de coração
apertado pelo maternal receio
e bafejado
com o seu virginal afecto
e
carinho
Talvez…
Talvez
meu pai
tenha
levado longe demais, em mim
o ideal
da verdade
liberdade
aventura
e altivez
Talvez…
Talvez
o meu povo, simples e probo
me
tenha marcado de forma especial
com
a sua generosidade ancestral
a
sua simplicidade
rusticidade
e
honradez
Talvez…
Talvez
a minha amada Terra Quente Transmontana
me
tenha moldado em seu ventre
com
o calor do Verão destemperado
o
frio do Inverno desmedido
e o
seu raro Firmamento de religiosidade iluminado
eterna
promessa de Parúsia, hossana!
que
em cada Primavera se espera
Talvez…
Talvez
Cristo Jesus e a sua Cruz
tenham
tocado demasiado fundo o meu coração
e transformado
para sempre a minha vida
numa
permanente oração
Talvez…
Talvez
a minha Pátria, Portugal
me
tenha desiludido
e
traído o Império Místico da Irmandade Universal
a
razão de ser português
Talvez…
Talvez
por tudo isso eu me sinta agora e aqui
deprimido
angustiado
de
coração agitado
confrontado
comigo
com
os meus
com
Deus
os
céus
as
misérias do mundo imundo
e o
fracasso da Civilização
Talvez…
Vale
de Salgueiro, domingo, 27 de Julho de 2008
Henrique
António Pedro
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