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terça-feira, 12 de março de 2013

Que seja já amanhã o futuro




Males e vícios

perdem-se

na origem dos tempos

 

O presente

exacerba-se

em mentiras

maldades

falsidades

 

As virtudes

foram remetidas

para os confins do futuro

 

Sinais claros

de que a Civilização caminha

para o fim

 

Que seja já amanhã

o futuro

que o presente seja para esquecer

e o passado

o seja para sempre

 

Ou será que melhor será

tudo olvidar?

 

Vale de Salgueiro, domingo, 15 de Maio de 2011

Henrique António Pedro

 

domingo, 10 de março de 2013

Sou poeta porque sou um homem só




No sentido em que tenho um mundo imenso
dentro de mim
que é só meu
em que toda a minha vida se concentra
e onde ninguém entra
sou poeta porque sou um homem só

E porque é este mundo que eu quero dizer aos outros
por poesia
sou poeta porque sou um homem só
embora tenha milhares de amigos
leitores e admiradores
viva feliz
e bem acompanhado

Por isso me expresso por mil poemas
metáforas
dilemas
uso heterónimos
exorcizo demónios
visto a pele de heróis imaginários
imagine amores
amantes
e fadários

Sou poeta
porque sou um homem só
um cavaleiro andante
no reino da fantasia

A palavra é a aminha lavra
a poesia a minha lança
rutilante

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sexta-feira, 8 de março de 2013

Eunice (A paixão segundo Platão)




Sentei-me de costas para o Sol

sob o caramanchão de buganvílias perfumadas

com ideias estudadas

projectando em Eunice

que me olhava de frente

a sombra da minha paixão

 

Assim seus lábios carmim

melhor se abriam para mim

acesos em desejos de beijos

embora o seu olhar de deusa

a sua voz maviosa

o seu rosto cor-de-rosa

irradiassem apenas pureza

 

Líamos o Livro VII da República

retendo-nos no Mito da Caverna

em procura de uma interpretação moderna

original e amorosa

 

Foi assim que encontrei uma leitura diferente

vendo Eunice  reclinada

bela

sentada à minha frente

 

Inspirado pela luz da sua formosura

certamente

que nenhum prisma passional refractava

e que me iluminava

com ternura

enquanto que a sombra

que eu sobre ela projectava

não vinha directa do Sol

tinha origem em mim

 

Era o reflexo da minha paixão

o revérbero do meu amor-próprio

refractado em todas as cores

do espectro do egoísmo

e que se irisava de desejo

ciúme

vaidade

posse e domínio

 

Mas de Eunice eu recebia

a luz pura do Amor

e da Verdade

que trespassava a limpidez do seu coração

por isso Eunice

não entendia bem

Platão

 

Não lhe revelei os meus pensamentos

na altura

para não ter de a fazer corar

e para eu não me envergonhar

de tão ousada inventiva

 

Por isso só agora

que já me não liga a Eunice o desejo

que só raramente a vejo

e já não projecto nela  a minha sombra lasciva

mas a amo de verdade

lhe remeto esta poesia

 

Certo de que a receberá ainda a tempo

de ensinar aos seus alunos de filosofia

que a luz de que Platão falava

na sua genial alegoria

era a luz do Amor

 

Enquanto que a paixão

é a sombra do amor-próprio

a ilusão

irisada

refractada

nos prismas do coração

 

in Mulheres de Amor Inventadas (1.ª edição Nov2013)


quarta-feira, 6 de março de 2013

Uma paixão virtual





Separados por um mar tão largo
e tão profundo
podemos apaixonarmo-nos livremente
e amar-nos à vontade
que daí não advirá nenhum mal
ao mundo

Quando muito um desgosto só
uma saudade abstracta
que dói
mas não mata

Podemos mesmo chorar
gritar
esbracejar à vontade
que os gritos serão levados pelo vento
os gestos se perderão na distância
e as lágrimas não passarão de gotas
no oceano no nosso descontentamento

E se acaso nos apoquentar a tentação
de tomarmos o primeiro avião
e voarmos sobre o oceano
ao encontro um do outro
então…

Terminarei o poema depois
para que não subsista qualquer equívoco
ou engano
porque o mais certo seria voarmos
em voos desencontrados

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domingo, 3 de março de 2013

O que mais me agrada olhar




Perguntas-me
a pensar em ti
o que mais me agrada
ver

Respondo-te
olhando-te
sem nada te dizer
que o que mais me agrada olhar
é o azul cerúleo dos lagos
orlado do verde viçoso dos vales
em contraste com o azul-escuro das montanhas

Abrilhantado pelo azul diáfano do céu
com tufos de nuvens brancas a flutuar na atmosfera
e a alvura da neve resplandecendo nas cristas
quando a luz do sol tudo ilumina

Aprecio sobremaneira o luar
e o brilho das estrelas
a luminosidade do teu olhar
o brilho fulvo da tua cabeleira
esvoaçando neste cenário
imaginado

Aprecio tudo
aprecio-te a ti
sobretudo
quando te olho e sinto de verdade

Sobretudo
quando tudo
se envolve em espiritualidade

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sexta-feira, 1 de março de 2013

Porque renunciou, o Papa?!




Porque o Papa renunciou terá sentido recordar, aqui e agora, o poema “Que renuncie. O Papa!” que escrevi em 8 de Abril de 2010 e que se encontra no Youtub (http://www.youtube.com/watch?v=mBrGJxaYeGo) desde essa data, por amável deferência da poetisa Vóny Ferreira, que o declamou e de Pipinhaferreira que produziu e carregou o vídeo.
Nunca tive, nem tenho, a veleidade de que o Papa o tenha lido ou venha a lê-lo. Não obstante, enquanto crente criticista, aqui expresso a minha homenagem a Joseph Alois Ratzinger pelo seu gesto de renunciar, que à partida qualifico de luminoso e que o poderá levar aos altares; ou à mediocridade, se acaso a História vier a evidenciar causas mais sombrias. Desejo veemente, contudo, que o Papa Bento XVI, por este seu acto, venha a ser consagrado um moderno Santo Doutor da Igreja.


Que renuncie. O Papa!

O crime mais hediondo
A mais abjecta animalidade
A mais vil desumanidade
O vício mais repugnante
A pior pornografia
O pecado mais aberrante
A mais gravosa ofensa à Fé
Aí está:
A pedofilia!

E é facto de facto não localizado
Largamente generalizado
Até
No seio da própria Igreja!

Durante anos encoberto
Disfarçado
Tolerado
Mas que não mais se atura

E por mais isenta e imaculada que seja
A pessoa do Papa
Por mais sábia
E esclarecida a criatura
Deve auto-imolar-se
Sacrificar-se

Para que a Igreja
A si mesma se purifique
Que o Papa a si próprio se crucifique!

Para que a Humanidade se redima
Sem que Jesus Cristo de novo
Seja imolado
Crucificado

Para que o povo
De Deus
Que O ama e estima
Nestes tempos dementes
De choro e ranger de dentes
Na Igreja se reveja

Que renuncie. O Papa!


Vale de Salgueiro, quinta-feira, 8 de Abril de 2010
Henrique Pedro