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segunda-feira, 6 de outubro de 2014

O amor e a imaginação


 

Só pela imaginação
não vai a lado nenhum
o homem

Não chega sequer a sair
da sua própria mente

Só pelo amor
o homem sai de si
chega aos outros
os toma
e retorna

Só pelo amor penetra no seu ser
na sua razão de ser
aprende a amar
e a sofrer

Só pelo amor
desta arte
vai o homem
a toda parte

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Como pode a vida ter por fim a morte?


 

 

Como pode a vida ter por fim
a morte?

Ainda que o fim da vida
seja morrer?

Se viver
é uma caminhada interior
por mundos de dor
e de amor

Por espaços abertos
de ideias
e de afectos
a meias com o mundo exterior

É vencer montanhas de glória
de derrotas sem história
selvas de ambição
desertos de sonhos
pântanos de frustração

Sem se poder parar
ou sequer descansar
porque o coração não pára de bater
nem o cérebro de pensar
nem a alma de sentir

Se morrer é apenas desistir
de acreditar

E viver é libertar!

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Mil virgens fatais




Tão curtos são os meus passos
tão frouxos os meus abraços
tão limitado o meu olhar
tão falível a minha mente
que duvido que algum dia
mesmo por fantasia
possa deixar de ser gente
e vir
a ser
deus                           

Anjo sequer

Muito menos se me fizesse deflagrar
fosse porque causa fosse
mesmo por uma só qualquer
mulher

E como poderia eu
tirar gozo de mil virgens fatais
num paraíso irreal
sem pernas
nem braços
sem pénis e sem beiços
com que as pudesse possuir
e amar?

Jamais

Nem mesmo imaginar

Trágico será 
imaginar
e sorrir

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 18 de Fevereiro de 2011
Henrique Pedro


sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Apenas angústia e lágrimas para partilhar



Quando
e onde nasci
mum pequeno mundo rural
do Portugal
implantado na  Europa
por engano
ainda se bendizia a Deus
pelo pão de cada dia
se benziam as colheitas de cada ano
e se celebrava o seu sucesso com alegria

Porque se sabia quanto custava
andar um ano inteiro a mourejar
ao sol ardente
à chuva
ao frio
e à geada
para se conseguir o sustento
um naco de pão que fosse
arado, semeado, ceifado, malhado, moído, amassado, cozido
partido e repartido
com dor
amor
e suor
à força da enxada
e do timão

Mergulhou-se depois num mundo fácil
de frágil
e fugaz ilusão

Com demasiada gente que deveria chorar mas que cantava
e ria
por tanto ter que esbanjar
que adorava os falsos deuses que lhes punham a mesa farta
e do mundo da miséria os apartava
mas lhes encondia a verdade

Agora
são milhares os seres humanos que não têm que comer
nem deuses a quem agradecer
e que apenas têm lágrimas
para partilhar!

Mais a angústia de não saber que fazer

Agora
mais do que nunca

tem sentido a palavra solidariedade

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Qual o destino dos sentimentos?



Qual o destino dos sentimentos
sobretudo dos afectos mais fortes
dos maiores amores
ódios
rancores
sobretudo daqueles que não dirimimos
e nos fazem andar dias e dias a sofrer
noites e noites sem dormir?

Acontece-lhes o mesmo que às pétalas inúteis das flores
que empalidecem até secar
com o perfume a diluir-se até deixar de ser aroma
e pés e espinhos a apodrecer
até deixarem de magoar
e de fazer sofrer

Mas não são lançados à terra
nem se transformam em húmus
não se reciclam em novas flores
em novas pétalas
novos espinhos
novos ódios
novos rancores
novos amores
novos perfumes

Convertem-se em inócuas lembranças
que o tempo lentamente faz atenuar
até acabarem por entrar em torpor
e definitivamente
se esquecer

Para que o espírito se possa
revelar
em amor
o destino dos sentimentos é se desvanecer

até morrer

quinta-feira, 31 de julho de 2014

O futuro do rio é o mar



Sobrevoo
vales velados de nuvens
por onde corre o rio
do destino
sendo certo que o seu futuro
é o mar

Acima de mim
o céu

Pesado
plúmbeo

De chumbo

Não rio
nem ouso pousar
em nenhum lugar

Assim vou continuar a voar
até me diluir
com poesia
numa gota de chuva
feito lágrima
de alegria

Na esperança de que o calor
do amor

me fará evaporar