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sábado, 12 de janeiro de 2019

Vá para aonde vá ou for




Vá para aonde vá
ou for
carrego sempre comigo
uma mala de fantasia
cheia de sonhos
e de amor

Sempre foi assim
e sempre assim será

Sonhos
são sementes de poesia
que germinam em poemas
em cânticos de louvor
gritos de alegria
choros de dor
ao sabor da sorte
arpejos de dilemas

Assim será
até na hora da morte
já que estou em crer
e disso tenho fé
que continuarei a sonhar
a amar
e a escrever poesia
mesmo depois de morrer

Vá para aonde vá
ou for
carrego sempre comigo
uma mala de sonhos
e de amor 
preparado para amar

É dentro dessa mala
que me faço transportar


Vale de Salgueiro, quinta-feira, 3 de Junho de 2010
Henrique Pedro

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Cada poema que escrevo é um cigarro que acendo





Não fumo nem nunca fumei
não compreendo por isso esta imagem triste em que me inspirei

Cada poema que escrevo é um fósforo que risco
na obscuridade

Ouço-lhe o ruído breve
característico da ignição
esforço-me por proteger a chama pequenina da verdade
com a concha da mão
o tempo suficiente para acender um cigarro
de amor e martírio no meu coração

A sonhar que arde
aquece
ilumina
anima
e não mais se esquece

Se ata 
se ateia a outra e a outra candeia
em cadeia

Que é uma fogueira de ideia
de poesia
que ilumina a Terra inteira

Oh, Deus!
Cada poema que escrevo
é mais que um fósforo que risco
para acender um cigarro
a que me amarro
para deixar arder
e esquecer

É uma chama de amor que arde
sem se ver

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 27 de Outubro de 2010
Henrique Pedro

domingo, 9 de dezembro de 2018

Criar do Nada






Criar
é dar o ser a algo
ou a alguém

Criar do nada
não é poder de ninguém

Que criou, o homem, até hoje, do nada?

Nada!
De palpável, nada!

Nada que se veja, se palpe ou se ouça
Nem mesmo o pulsar silencioso do coração quando ama

Porque para se ver é preciso algo que reflicta luz

Para se ouvir é necessária alguma coisa que soe

Para se tactear é preciso algo que toque a pele

Para se dar vida é preciso algo que já vive

Para se acender uma fogueira é necessário algo que já arda

Nem mesmo um simples poema que seja sai do nada mesmo se o coração do poeta está vazio

O próprio nada matemático foi criado dos números inventados

O próprio amor não sai do nada
é fruto de matéria interior

Criar do nada é privilégio do Criador


Vale de Salgueiro, 09 de Dezembro de 2018
Henrique Pedro



quarta-feira, 5 de dezembro de 2018



Há momentos
quando cumpria a rotina nocturna
de me ajoelhar no centro da abóbada celeste
para rezar e reflectir
de olhos postos no Céu

Aconteceu tudo se transformar numa imensa dúvida
que implodiu a minha Razão
a fez colapsar
e me esmagou

Apenas me via e sentia
como o ser mais insignificante do Cosmos
sem ter explicação para nada

Mas o meu coração transbordava de algo maior que o Universo
que me fez levantar
e continuar a olhar a noite
ainda angustiado
mas de pé

Algo que apenas sei traduzir por duas letras

Fé!

Vale de Salgueiro, terça-feira, 2 de Setembro de 2008
Henrique Pedro

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Bolhas de Amor




Os peixes nadam circunscritos ao meio aquático
soltando bolhas de ar sempre que vêm à superfície
e que se perdem na atmosfera

As aves voam nos céus agitando o ar com as asas
sem ousarem libertar-se da terra

Os humanos são mais que animais

São bolhas de vida
confinadas à campânula de ar que envolve a Terra
que soltam bolhas de ideias que se evolam
e se perdem no espaço

São ainda mais na verdade

São bolas de sabão insufladas de razão
a flutuar no ar

Bolhas de espírito preso a ideias e afectos 
a procurar libertar-se das teias da animalidade

Bolhas de amor
que explodem no seio do Criador

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 8 de Março de 2010
Henrique Pedro

domingo, 2 de dezembro de 2018

Em Dezembro





Em Dezembro o Inverno é um inferno
frio e cinzento
contratempo

A alegria é triste
e o silêncio é denso
pesado
compassado

As noites são longas
e os dias
longos crepúsculos
opúsculos de impaciência

É tempo de reflexão
hora de resistir à impaciência
de despir por dentro
e vestir por fora
como se nos estivéssemos a despedir
sem saber para onde ir

Em Dezembro
as abelhas dormem nas colmeias
em suas celas de cera e mel
à espera da Primavera

Já as primeiras flores de laranjeira
nascidas a destempo
foram sacrificadas o vento gélido
e à geada
do Inverno cruel

Como o primeiro amor
que ainda em flor
foi tolhido pela intempérie
e atirado ao vento
num insano gesto
impensado pensamento

Em Dezembro
o vento é um longo lamento


Vale de Salgueiro, sexta-feira, 30 de Janeiro de 2009
Henrique Pedro