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quarta-feira, 14 de julho de 2021

Filho do Sol e de Gaia

 


Alguém

fora do espaço e do tempo

me surpreende a lamber as feridas

do último combate dentro de mim

e me pergunta quem sou

 

Sou filho do Sol e de Gaia

minha bem amada mãe

e tenho a Lua por aia

 

Vivo do seu ar e da sua água

de angústia apresada

e de sonhos de cambraia

 

E componho melodias de pensamento

que tanjo com o coração

e espalho no vento

 

Versos de amor e amizade

poemas de verdade

gritos de razão

 

Olho a Lua

que iluminada

estua

nela me vejo ao espelho

e a minha vaidade se esvai

 

Sou filho do Sol e de Gaia

minha mal amada mãe

criados por Deus Pai

ante quem me ajoelho

em acto de contrição


De todas as criaturas sou, por isso, irmão.

 

Vale de Salgueiro, 14 de Fevereiro de 2008

Henrique António Pedro


domingo, 11 de julho de 2021

Continuo à espera de um sinal


Venha ele de onde for

venha de dentro

ou de fora

continuo à espera de um sinal

 

Seja um cicio

um sorriso

um compromisso

um olhar

um beijo

um lampejo de desejo

um abraço apertado

 

Talvez um fenómeno inesperado

um sussurro de vento

uma ideia avivada

um lampejo de luz

que ilumina

cativa

seduz

e faz acreditar

 

Talvez o testemunho de alguém

que também continua à espera

por sinal

de um sinal

 

De um fogo de amor no coração

do fim da dor

da chama da iluminação

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 19 de Outubro de 2010

Henrique Pedro


sábado, 3 de julho de 2021

Agora ando a aprender a pensar


Andei a vida inteira

a aprender a melhor maneira

de bem raciocinar

 

Oh, que grande asneira!

 

Aprendi a soletrar

palavras e letras

a ler

e a escrever

 

Tretas!

 

Aprendi números e algarismos

a contar

somar

subtrair

multiplicar

e dividir

 

Calculismos!

 

Devorei compêndios de gramática

e de matemática

poesias e analogias

tratados de ética e de lógica

físicas e filosóficas

 

Fantasias!

 

Aprendi a falar verdade

e a mentir

a ficar e a fugir

a tocar violão

a matar ou morrer

a sobreviver

 

Socialização!

 

Agora ando a aprender a pensar

e a amar

para me libertar

e salvar

 

Sem números ou letras

nem outras petas e tretas

 

Iluminação!

  

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 3 de Outubro de 2012

Henrique António Pedro


 

segunda-feira, 28 de junho de 2021

Uma pedra de gelo a arder


Este poema é uma pedra de gelo que arde

e se derrete

com o calor da imaginação

 

É um monte de caruma que será fogueira

se ateada pela chama

de quem o ler

para se aquecer

 

É um emaranhado de palavras

à espera de serem lidas

e sentidas com poesia

mesmo sem que tenham

rima alguma

 

É um novelo de lã que será meia

depois de tecido e fiado

pelas mãos da tecedeira

 

É o presente que será futuro

quando tiver passado que contar

 

É uma madrugada que será dia

quando o Sol raiar

 

Este poema é uma pedra de gelo

que o calor da poesia transforma em água

que levanta fervura

e vira vapor

 

É uma ideia que será iluminação

quando for gelo

a arder

 

Porque o amor só o é na dor

e sem condição

  

Vale de Salgueiro, 20 de julho de 2020

Henrique António Pedro


sábado, 29 de maio de 2021

À janela à espera da próxima revolução



À janela à espera da próxima revolução

 

Foi a vida ou talvez não

 

Talvez o Governo sem noção de Nação

que lhe atou os pés e as mãos

lhe abafou o coração

a deixou louca

 

Não lhe vendou os olhos

nem lhe tapou os ouvidos

nem lhe calou a boca

e demais sentidos

 

Continua a ver

a ouvir

a falar

atenta ao mundo

embora sem nada mais poder

por agora

que fazer

 

Esta mulher à janela é o retrato da Nação

 

Mergulhada no conformismo desconcertante

de amargura instalada no coração

angustiada

a esperança a mantém acordada

vigilante

 

Foi a vida ou talvez não

 

Talvez o Governo sem noção da Nação

 

Está atenta

à janela

preparada para o que der e vier

à espera da próxima revolução

 

Que venha ela

 

Já!

 

Mas que seja de amor

de verdade

 

De salvação!

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 18 de Agosto de 2010

Henrique António Pedro



quarta-feira, 26 de maio de 2021

Onde é o além?


Deito-me

em decúbito dorsal

relaxado

livre do bem

e do mal

 

Envolto em perfeito silêncio

e escuridão

os olhos fechados sem nada ver

os ouvidos sem nada ouvir

sem sentir o coração bater

nem me dar conta de respirar

nem do tempo fluir

 

Sem me afectar a mais leve emoção

no  presente

a mais ténue saudade

do passado

a ansiedade mais débil

do futuro

 

De memória desmemorizada

de nada

e a consciência em total ausência

de tudo

 

Com o cérebro a “cerebrar”

que não a pensar

e que tento também, em vão

parar

 

Acabo por acordar

e deixar de sonhar

 

Num sopro saio do corpo

 

Passo a tudo ver

ouvir

e sentir

 

Fico sem saber

porém

para aonde ir

nem onde é o além

 

 

 

in Anamnesis

Copyright: Henrique António Pedro

1.ª Edição: Janeiro de 2016