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sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

À lareira

 



Fito a lareira acesa

com o coração ao fogo exposto

as labaredas lambem-me o rosto

com seu morno calor

 

São raízes que ardem

e me aquecem sem me queimar

lembranças de amantes

que me enlaçam

inebriantes

e uma após outra me vêm

beijar

 

Labaredas de lembranças

quimeras de amor

que aparecem

e me aquecem

mas logo se esquecem

fugaz fulgor

 

Estendo-lhes a mão por elas iluminada

ainda assim

sem dilema

para as acariciar

 

Guardo para mim este poema

cinza prateada de recordação

 

Vale de Salgueiro, Quinta-feira, 20 de Dezembro de 2012

Henrique António Pedro


segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Porque te amo, eu?!

 


Porque a luz do teu olhar

Me ilumina

Por dentro

 

Porque o sopro do teu respirar

Me inebria

E me dá alento

 

Porque o toque da tua mão

Me arrepia

E me acelera o coração

 

Porque a tua voz me desperta

O teu perfume me incendeia

O teu espírito me cativa

E me liberta

 

Porque és a mulher que mais me diz

E que mais de si me dá

 

Só por isto eu te amo

Ainda que sem que eu saiba

Haja uma divina razão

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 29 de Dezembro de 2009

Henrique António Pedro

sábado, 1 de janeiro de 2022

O mundo acabará no dia em que eu morrer


No dia em que eu morrer apagar-se-ão todas as luzes da Terra

e todas as estrelas do céu

o Sol pôr-se-á para não mais nascer

porque os meus olhos fechados nada mais poderão ver

 

O mundo acabará nesse dia

para mim

 

Quando eu morrer calar-se-ão os todos os canhões

os corações deixarão de bater

os meus ouvidos silenciados

tão pouco o cântico das aves poderão ouvir

 

Deixará de haver tempestades na terra e no mar

cães a latir

crianças a chorar

as flores deixarão de perfumar o ar

e de colorir os campos

porque eu não estarei lá para os apreciar e sentir

 

Todas as lembranças de criança

sonhos de glória

a história da minha vida sentida

se apagarão da memória nesse dia

 

O mundo cobrir-se-á de um manto de tristeza

sem sentido

porque morrerei sem ter sido tido nem achado

e embora viva apaixonado

ainda hoje não sei porque nasci

e também não saberei

porque morri

 

Resta-me contudo a esperança

a fugaz alegria

de que o mundo não se acabará para mim no dia em que eu morrer

se uma só boa pessoa continuar a ler

a minha poesia

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Henrique António Pedro



terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Dessa mulher nada quero saber

 


Não quero saber quem é

nem o que faz

ou que fez

 

É-me indiferente

 

Completamente

 

Não me importa saber se é bonita

catita

feia

fantasma

sereia

inteligente

indigente

morena

liberal

grande

pequena

sensual

bailarina

nórdica, arábica ou latina

 

Duvido até que é disléxica, estrábica e daltónica

porque mal me vê

e nem me fala

 

Sobre essa mulher

não me interrogo

 

Quero lá saber!

 

Apenas me questiono

porque será que só de a ver

me emociono

 

Dessa mulher nada quero saber

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 27 de Fevereiro de 2012

Henrique António Pedro

 

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Olho-me nos olhos


Olho-me nos olhos

in Anamnesis( 1.ª Edição: Janeiro de 2016) 

 

Vejo-me ao espelho

olho-me nos olhos

 

Vejo um sujeito que não sou eu

que não conheço

e que me espanta

 

Não é o meu eu interior

poético ou lírico

que vive de amor

que ali se reflecte

 

É um crâneo calvo

um rosto rugado

um olhar cismado

que nada me dizem de mim

 

E eu

a toda a hora me olho

e me vejo por dentro

faça sol, chuva ou vento

noite e dia

a dormir ou acordado

em tristeza ou alegria

 

E sempre me vejo

com verdade

embora envolto em sonho

e ansiedade

 

Fico

por isso

espantado

por ver-me assim retratado

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 2 de Março de 2011

Henrique António Pedro

 


quinta-feira, 18 de novembro de 2021

AMAR E SOFRER



Tantas vezes nos enganamos

julgando que amamos

só porque sentimos prazer

que o próprio amor

acabamos por perder

o que ainda mais nos faz doer

 

É sofrendo

e amando

que o amor se vai firmando

e vencendo

a dor

 

Para sofrer

bastamo-nos a nós

não precisamos de nada nem de ninguém

e mais sofremos

sós

 

Para amar

porém

precisamos de algo

ou de alguém

 

Vale de Salgueiro, 4 de Fevereiro de 2008

Henrique António Pedro