quarta-feira, 15 de outubro de 2014
A diva
Olho-a em silêncio
Ouço a melodia
que ecoa
por mim a dentro
Com o seu canto
me encanto
Canção calada
música encantada
da qual
quase não nada
ouço
Bailo
enlevado
levado na fantasia
Acordo
ao último acorde
e aplaudo
E lavro
em poesia
este laudo
sexta-feira, 10 de outubro de 2014
Há roseiras a rosir
Há roseiras a rosir
agora pelo Outono
frágil entono
quando as romãs começam
a rir
e os ouriços nos castanheiros
altaneiros
quase
quase
a parir
E as andorinhas
a partir
O céu
e os campos
ensaiam simulacros de
Primavera
por todos os cantos
mas a cor dominante não
é o verde fulgurante
pintalgado de papoilas
e malmequeres
e da sensualidade
desnuda das mulheres
São tons quentes de
castanho
de folhas amarelecidas
que se vão desprendendo
pelo vento
de árvores
entristecidas
simulando alegria
em derradeiro arreganho
que é lamento
elegia
pura poesia
Só as mães
depois que lhe morrem
os filhos
não voltam mais
a sorrir
quarta-feira, 8 de outubro de 2014
Escrevelendo
Quando escrevo
leio
e quando leio
escrevo
Na mente
em segredo
não é devaneio
nem minto
Assim
num de repente
leio
releio
reescrevo
e transcrevo
a Natureza
o Cosmos
o que vai dentro de mim
Primeiro leio o que sinto
ou o que se passa à minha volta
e é o que leio
que escrevo
se me anima
acalma
revolta
ou induz estima
E sempre leio
e releio
o que escrevo
e também escrevo
quando leio
o que os outros escrevem
Leio
e escrevo na mente
ou no coração
embora não com a mão
o que os outros escrevem
para que eu leia
e que algo me diz a mim
Assim me enleio
a escrever
e a ler
em tudo que “escreveleio”
Não aprendemos a ler
primeiro
e depois a escrever
Sempre aprendemos a “escreveler”
segunda-feira, 6 de outubro de 2014
O amor e a imaginação
Só pela
imaginação
não vai a lado
nenhum
o homem
Não chega sequer a
sair
da sua própria
mente
Só pelo amor
o homem sai de si
chega aos outros
os toma
e retorna
Só pelo amor
penetra no seu ser
na sua razão de
ser
aprende a amar
e a sofrer
Só pelo amor
desta arte
vai o homem
a toda parte
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
Como pode a vida ter por fim a morte?
Como
pode a vida ter por fim
a
morte?
Ainda
que o fim da vida
seja
morrer?
Se
viver
é uma caminhada
interior
por
mundos de dor
e de
amor
Por espaços
abertos
de
ideias
e de
afectos
a
meias com o mundo exterior
É vencer
montanhas de glória
de
derrotas sem história
selvas
de ambição
desertos
de sonhos
pântanos
de frustração
Sem se
poder parar
ou sequer
descansar
porque
o coração não pára de bater
nem o
cérebro de pensar
nem a
alma de sentir
Se
morrer é apenas desistir
de
acreditar
E
viver é libertar!
sexta-feira, 19 de setembro de 2014
Mil virgens fatais são demais
Tão curtos são os nossos passos
tão frouxos os nossos abraços
tão limitado o nosso olhar
tão falível a nossa mente
que duvido que algum dia
mesmo por fantasia
possamos deixar de ser gente
e vir
a ser
deuses
Anjos sequer
Muito menos se nos fizermos deflagrar
seja porque causa seja
tão pouco por uma qualquer
mulher
que seja
E como poderíamos nós
tirar gozo das tais mil virgens fatais
num paraíso irreal
sem pernas e sem pénis
sem braços e sem beiços
com que as pudéssemos possuir
e amar?!
Jamais
Nem mesmo imaginar
sequer
Trágico seria
só
admitir
e sorrir
Mil virgens fatais são demais
Vale de Salgueiro, sexta-feira, 18 de Fevereiro de
2011
Henrique António Pedro
Subscrever:
Mensagens (Atom)