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quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Paixão platónica



Trago o meu pobre coração a arder
É tão triste a minha condição
E tão abrasadora a paixão
Que o desfecho não posso prever

A essa mulher não passo sem ver
Embora forçado pela Razão
A conter-me e a dizer que não
Senão, tudo deitarei a perder

Mas ela, com sorrisos e perfume
Com seu doce jeito de me olhar
Mais não faz que atear mais o lume

Apaixonado, já não sei parar
Como sair deste amor incólume

Sem queixume, sem dor, sem me queimar

terça-feira, 13 de agosto de 2013

A feia bonita Beatriz



Uma feia bonita
mulher ultriz
é raiz
deste poema
contrito lamento
feérico fonema

Suspeitava que Beatriz me amava
mas eu não sabia
o que comigo se passava

Tonto
disse-lhe que a achava feia

Era só meia verdade
a outra meia
era que muito a estimava

Mas a ultriz Beatriz
de pronto
me fez a vontade

Nunca mais me olhou
nem me procurou
e o meu coração mergulhou

na mais cruel ansiedade

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Uma puta qualquer



Habituei-me a vê-la, por ali
com ar convidativo, descarada
no seu “trotoir” chamativo
de carteira a cirandar na mão
debaixo de um pinheiro manso
mesmo à beira da estrada
no frondoso parque de Monsanto
sabe-se lá em que esconso remanso
guardava ela o seu coração

Era jovem, elegante e vistosa
vestia  minissaia cor-de-rosa
blusa transparente cor de salmão
não era uma puta qualquer
era sim, mais uma mulher

Eu passava a correr, ofegante 
nos meus “footings” matinais
mas não lhe falava
nem ela comigo se importava
mais atenta que estava à estrada
de onde vinha o seu ganha-pão

Mas um dia … nunca mais a vi!

Qual não foi o meu espanto
quando soube pelos jornais
que fora encontrada assassinada, por ali
em pleno parque de Monsanto

Comprei uma rosa, com espinhos
da cor da sua minissaia
e quando por lá voltei a passar
pelos habituais caminhos
do meu “footing” matinal
desta vez parei, para lhe falar
como se o fizesse do habitual
para colocar a flor
com respeitoso amor
sobre um tufo espontâneo de feno
e coloridos malmequeres

Dediquei-lhe uma breve e sentida oração
e não resistindo ao impulso blasfemo
que me saiu, directo, do coração
gritei para comigo, entristecido:
- É bem “puta” a vida, para certas mulheres!


in "Mulheres de Amor Inventadas" (Henrique Pedro-2013)


quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Aposto que este poema é o mais estúpido



Aposto que este poema é o mais estúpido
de todos os poemas que algum dia foram escritos
embora poemas por escrever
haja aos milhares e a ferver
desejosos de se dar a conhecer
neste ínterim

Poemas à espera de poetas proscritos
que os queiram assumir
sendo certo que em poesia
tudo pode coexistir

Ainda assim
meus senhores
este poema só não será o mais estúpido
se for apreciado por um número suficiente de leitores
alguns dos quais lhe acharão graça
e haja até quem me diga que gosta

Alguém poderá mesmo considerá-lo genial
e então eu concluirei afinal
que maior é a minha desgraça

porque perdi a aposta

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Badaladas desconcertadas do coração




Doze badaladas o coração bate
ao meio dia
como cão a latir

Ruidosas
apressadas
pressurosas
a fugir
a saltar fora do peito
a viver fora de si

Outras doze badaladas o coração bate
à meia-noite
como vento a rugir
fora de tempo

Langorosas
arrastadas
pesarosas
a parar
para morrer
dentro do si

Doze com doze são vinte e quatro
badaladas
desconcertadas
que a vida tem
mais aquelas que o coração bate
no ventre de nossa mãe

Mais aquelas descontadas
se dormimos
ou não sentimos
o coração bater
por ninguém
mundo fora
hora a hora
aqui
ali

além

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Não chores por mim, Argentina!


Não chores por mim
Argentina

Nem digas que vais ficar
para sempre
à minha espera

A ti, eu jamais direi adeus

As lágrimas de amor
e de infundado temor
que vejo luzir em teus olhos
neste meu hesitante partir
sem te dizer se vou voltar
acendem saudades nos meus

Pensa antes, amor
nos molhos de poemas e de flores
que te irei ofertar
já na próxima Primavera

Mas não me digas, por favor
que vais ficar
para sempre
à minha espera
que me deixas desolado
a pensar
que poderei
não poder
voltar
jamais

E eu não quero que seja
assim tão demorado
o teu sofrer

in Mulheres de amor inventadas (1.ª Edição, Outubro de 2013)