Seja bem vindo/a. A mesa da poesia está posta. Sirva-se. Deixe, por favor, uma breve mensagem. Poderá fazê-lo para o email: hacpedro@hotmail.com. Bem haja. Please leave a brief message. You can do so by email: hacpedro@hotmail.com. Well done.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Batendo com a cabeça no Infinito





Nestas noites amenas e serenas
em que o espírito se embriaga de espiritualidade
e a angústia se adoça
em doce soledade
fascina-me o Firmamento

Vejo-me reflectido no imenso espelho
cristalino
que me envolve
e me toma o pensamento

Expedito
voo por ele adentro

Até que bato com a cabeça no infinito
qual insecto vagabundo
que se projecta contra o vidro
em que se vê reflectido

Também eu me iludo
e julgo ser aquele
o meu mundo

Mas depressa me dou conta
de que não tenho pernas
nem braços
nem asas
nem motor espacial
capazes de lá me levar

E que apenas se voar
por mim adentro
poderei
um dia

lá chegar

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Esta saudade cadela


(Do meu baú de recordações)

Esta saudade cadela
me morde
e me ladra
a toda a hora
furiosa
e não me deixa dormir

Em vão tento amansá-la
imaginando a minha amada
saudosa
a sorrir
amorosa
escrevendo o aerograma
que agora tenho na mão
em que me diz
que me ama

Aerograma que leio
e releio
mas mais me enleio
nesta cruel nostalgia
nesta saudade
insidiosa
cadela
que ladra à lua

Só mesmo a poesia
dá conta dela!


Nangololo (Norte de Moçambique), Agosto de 1971

Henrique Pedro

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Os mais belos poemas de amor são escritos por quem não está verdadeiramente apaixonado


Muitos poemas de amor

quiçá os mais belos

são textos singelos

escritos por quem não está verdadeiramente apaixonado

 

Por quem

em rigor

a si mesmo se engana

ou por certo algum dia se enganou

 

Há mesmo quem escreva sem saber que o diz

ou faz

julgando ser feliz

embora não sendo falaz

 

Há quem viva na ilusão

no desejo frustrado

na esperança sem ensejo

na eterna aspiração

quiçá na simples fantasia

melhor dizendo

não desfazendo

na mais pura poesia

 

Esta a razão principal

pela qual

há tanto poeta a fingir

para fugir

ou se esconder

a escrever sem saber

fantasiosa poesia amorosa

imaginárias dores cor de rosa

 

Quem ama de verdade

vive com tal intensidade o seu enamoramento

que não tem arte nem tempo

para escrever e dar publicidade

a tal encantamento

 

Não é, portanto, de espantar

que os mais belos poemas de amor sejam escritos

por quem não está verdadeiramente apaixonado

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 21 de Setembro de 2010

Henrique António Pedro

 

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Oração fúnebre para um amigo



Adeus
amigo

Acabas de te despedir
não de morrer
enquanto a nós
nos for dado viver

Continuaremos a contar contigo
para o resto dos nossos dias

E se mais devir houver
lá nos encontraremos

Num cataclismo cósmico qualquer
no pó de uma estrela
no pé de uma planta
na pétala de uma flor
no verso de um poema
no halo do amor
na aura da saudade
na angústia de um dilema
na dor que nos quebranta

onde a amizade esteja

Adeus
amigo

Até sempre

Até qualquer dia
noutro plano
noutro tempo


No vento que seja

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Para onde quer que vás Luís Vaz…



O imortal poeta da gesta da lusa gente

morreu na miséria

indigente

Dele me lembrei quando também passei

pela Ilha de Moçambique

a mítica ilha do mar Índico onde Luís Vaz

“o Camões”

penou de verdade
de mão estendida à caridade

no regresso do Oriente

expoente de mil desilusões


Ali havia uma estátua de bronze
erigida num recanto sem encanto

que servia de pouso a pássaros

que lhe defecavam na cabeça

embora melhor sorte mereça

Não sei se ainda lá estará
se agora já não jazerá

nalgum monturo de inutilidades

nalgum armazém de banalidades
ou ornamentará o lar dalgum nativo

mais imaginativo

que nele pressentiu a magia

e o perfume

da poesia

 
Foi lá
e então
que me ocorreu este poema
embora só agora o dê a lume
porque hoje em dia

na minha desilusão ardem

sentimentos frustrantes

de ser português

e também e talvez por também eu pertencer

aos Vaz de Vilar de Nantes onde o poeta nasceu

 

Luís Vaz foi um inútil até deixar de o ser

quando a genialidade da sua poesia
gerou ventos e marés
e construiu autoestradas de sonho

por cima do mar medonho

Foi um verdadeiro indigente
mais mal pago que um qualquer operário

que com mais acerto, por certo

lavrava a terra ou caiava paredes

 

Foi um sem-abrigo

um semi-anjo
um quasi-deus

um apátrida
um extraterrestre sem interesse
a quem o soldo não bastou

para regressar à Pátria que o enjeitou

Poeta e soldado o foi onde houve verdade

sonho, amor, mistério e poesia

que um dia ergueram um Império de Humanidade

hoje em dia sem utilidade

tanto quanto sei

 

Para onde quer que vás, ou te levem, Luís Vaz…

irmão

amigo

eu lá estarei!

Contigo!


Vale de Salgueiro, quinta-feira, 30 de Setembro de 2010

Henrique António Pedro

 

 

 

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Deixem que o amor e a água corram livremente



Deixem que a água corra livremente
Nos rios, nos ares, nos lagos e nos mares
Que se mantenha pura nos gelos polares
Animando a vida e o ambiente

E deixem que o amor esteja presente
Em todos os poemas, danças e cantares
Nas empresas, nos estádios e nos lares
Na expressão de toda a gente que o sente

De água pura se faz sangue e vinho
É sagrada em toda a religião
Elo fundamental do ritual divino

Com puro amor se tempera a paixão
Se concebe e cria o meigo menino
Só com amor se alcança a Salvação