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segunda-feira, 9 de junho de 2014

Voam versos, voam penas



Passo
por onde passo
esvoaço
como pássaro
soltando poemas
preso aos dilemas
do viver

Voam versos
voam penas
não paro de esvoaçar
quanto mais me solto
mais acabo de me prender
e enredar

A minha poesia voa
voam versos
voam penas
nas asas da fantasia
continuo a adejar
e a sofrer
ansiedade

Até um dia
poder ser eu
a voar

de verdade

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Em que alvorada irá meu espírito despertar?



Exausto
limito-me a deixar-me adormecer
sem saber
nem tão pouco me preocupar
quando
como
e aonde irei acordar

De pronto
entro a sonhar

Sonhos súcubos
coloridos
doridos
alma e corpo a guerrear

Fenómenos oníricos
pensamentos empíricos
que tento em vão traduzir
agora já acordado
enredado no insolúvel trilema
deste poema

Sou contudo levado a deduzir
que sempre que sonho a dormir
é o corpo que sonha
mas a alma
que tenta acordar

E que sonha o espírito
quando vivo
de verdade
no corpo e na alma
sonho ou realidade

Por isso anda a minha alma angustiada
a pretender saber
em que alvorada

irá meu espírito despertar

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Diz-se do ódio o que se diz da paixão



Amar
amamos pessoas verdadeiras
e inteiras

Não amamos só um rosto
um braço, uma perna, uma mão
tão pouco só um corpo, um estatuto
sequer só um coração

Amar
amamos algo de imanente
permanente e transcendente
desconhecido
distendido
que não se encobre nem disfarça
e não nos embaraça

Daí que o motivo do nosso amor
possa estar numa mulher
num homem
num ente escondido
velho, novo, doente ou são

Já a paixão não!

A paixão tem rosto
e tem corpo
tem perfume
utilidade
irradia sensualidade
gera ciúme
é obceção

Apaixonar
apaixonamo-nos por uma pessoa concreta
que em nós desperta moléculas
de vício
de prazer e atracção
ou de alienação
embora com fantasia

Pessoa que nos inquieta
nos arrelia
basta um indício
uma indisposição


Por isso se diz do ódio

o que se diz da paixão

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Do Amor e da Razão



A

(Heptassílabo ou redondilha maior)

Entendeu o Criador

Envolver-nos em mistério

Entre agruras e dor

Com Amor por refrigério

 

O prazer é sal da vida

O sabor do bom viver

Mas a vida mal vivida

Tudo deita a perder

 

É nesta escuridão

Que devemos caminhar

Porém, à luz da Razão

 

Para nos alumiar

Com Amor no coração

Também o Bem praticar


B

(Decassílabo)

Entendeu Deus, o nosso Criador

Envolver-nos em pesado mistério

Adoçado nas agruras da dor

Pelo Amor, divino refrigério

 

O Amor é, assim, o sal da vida

Sabor e alegria de viver

Mas o prazer da vida mal vivida

Tudo poderá deitar a perder

 

Porém, ante tanta escuridão

Para melhor podermos caminhar

Também Deus nos deu a luz da Razão

 

E para melhor nos alumiar

Outra luz acende no coração

A quem o Amor, por bem, praticar

 

terça-feira, 27 de maio de 2014

Se o poeta amasse sinceramente






Se o poeta amasse
sinceramente
não faria do amor
poesia

Limitava-se a amar
tão somente
amar não é fantasia

Se o poeta sofresse
verdadeiramente
não faria da dor
poesia

Limitava-se a sofrer
como toda a gente
sofrer não é filosofia

O poeta não sofre suas dores
nem ama seus amores
ama e sofre as dores e os amores dos demais

O poeta só é sincero quando escreve versos de combate
poemas intemporais
por toda a parte
sejam de amor
de dor

ou de alegria

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Não me verás a acenar, a dizer-te adeus




O verde-esmeralda do teu mar interior
esse mar mediterrânico de amor
vai virar azul
e debruar-se de lampejos doirados
de desilusão

Mas o arco-íris da paixão
vai estabelecer uma ponte
uma grinalda florida
por cima do oceano
entre o teu e o meu
coração

Então as larvas da saudade
transmutar-se-ão em borboletas coloridas
os versos em rimas redimidas
e os poemas em cometas

Cometas que são livros
a derramar estrelas
de iluminar

E sempre nos poderemos reencontrar
a meio do mar

Não me verás a acenar

a dizer-te adeus