Ainda há pouco tempo se ouvia
qual monocórdica sinfonia
o tilintar metálico da nora
a ecoar campos fora
como se fora
agrícola harmónica
Tocada
sem lamento
pelo
paciente jumento
que
o garoto descalço
que
seguia no seu encalço
de
pronto zurzia
se acaso
a sinfonia se calava
porque
o tocador parava
estático
a pensar
ou tão
só para urinar
Às
voltas andavam o burro
o
rapaz casmurro
e os
alcatruzes de lata
enquanto
a água de prata
corria
regos fora
na
horta de ao pé da porta
Assim
era outrora
ainda
não há muito tempo
mas
assim já não é agora
sem
jumento
nem
nora
Agora
o garoto casmurro
que
ora ri ora chora
toca
a roda da vida
igual
à do burro de nora
dorida
de cruzes
alcatruzes
e
devaneios
Que
ora rodam cheios
de
ambição
ora
vazios
de desilusão
Vale
de Salgueiro, 13 de abril de 2018
Henrique
António Pedro