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domingo, 6 de outubro de 2024

Arrisco um verso, acende-se um poema



Arrisco um verso

acende-se um poema

e mais se ateia a lareira da saudade

 

Assim de coração ao fogo exposto

as labaredas lambem-me o rosto

com o calor ardente da verdade

 

São troncos secos da minha história

achas da minha memória

que ardem

e me aquecem sem me queimar

lembranças de amantes que me enlaçam

inebriantes

 

São chamas

hologramas que me vêm beijar

e aquecer o coração

 

Estendo-lhes a mão para as acariciar

 

São quimeras

que aparecem

aquecem

e logo desaparecem

 

Apenas deixam o dilema

a essência do fogo

e a cinza quente do poema

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 24 de Novembro de 2008

Henrique António Pedro

 

sábado, 5 de outubro de 2024

Angústia q.b.

 


Uma angústia larvar me apoquenta desde que me conheço

e que em vão procuro decifrar

 

Não é problema de salário ou de pão

 

Muito menos da conta da electricidade

da falta de fama ou de glória

ou de males de coração

 

Sinto-me feliz fora da História

e se a energia eléctrica falhar

passarei bem sem internet e a televisão

porque tenho o sol e as estrelas para me alumiar

 

Amor?!

Tenho muito para dar

não para vender

e pão…

até ver não tem sido preocupação

 

Também não tenho

tanto quanto sei

qualquer glândula avariada

o meu cérebro não sofreu qualquer pancada

e nesta estrada de angústia já aprendi a caminhar

 

São coisas mais complexas e etéreas que me afligem

e eu não sei explicar

 

É um tudo-nada de angústia

uma angústia de nada

angústia q.b.

que converto em poesia com alguma fantasia

e pura vontade de partilhar

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 17 de Janeiro de 2011

Henrique António Pedro

 

 

domingo, 29 de setembro de 2024

Esta insana ânsia de imortalidade



É muito mais que mera vaidade

esta insana ânsia de imortalidade

esta terna ansiedade de querer viver

em eterna felicidade

e não morrer

 

É esta insana ânsia de imortalidade

que nos leva a dar a vida

e a matar

 

É esta indevida ânsia de imortalidade

que nos faz cantar

bailar

amar

escrever

sofrer

desejar a fama

tentar a sorte

 

Emerge do âmago do nosso ser

e vai além da morte

 

É Deus que a nós nos chama

ouçamos a Sua voz

 

Vale de Salgueiro, domingo, 15 de Abril de 2012

Henrique António Pedro

 

sábado, 28 de setembro de 2024

Caído de um buraco do céu


O céu comum

é o tecto do mundo

feito de nuvens e de sonhos

e ponteado de estrelas

 

Com buracos medonhos

de imaginação

por onde escorre a chuva

quando os anjos obreiros

a mando de Deus

lavam o além

 

E revoadas de pássaros de arribação

se escapam do paraíso

para vir alegrar o ar

e aplacar a fome a guerra

na Terra

 

De um desses buracos eu caí

em dia de trovoada

numa noite iluminada

por relâmpagos de paixão

vaidade

e fantasia

 

A esse céu de nostalgia

onde mora a felicidade

procuro agora

em vão

regressar de verdade

pela escada da poesia

 

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 31 de março de 2017

Henrique António Pedro

 

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Temo a mim mesmo em mim me perder





Cavalga nas nuvens o destino

disparando sobre mim

relâmpagos e trovões

emoções de menino

 

A mim

sem mim

não me imagino

 

Não sei que substância é a minha

quem é o eu que em mim habita

que força move o meu pensamento

que sentimento me comove

que verdade me acredita

 

Temo a mim mesmo em mim me perder

 

No meu cérebro bailam dilemas

que florescem em poemas

garantes da minha glória

 

Sinto medo de os esquecer

sem outro meio de os escrever

que não seja na memória

 

A menos que alguém

que como eu ande perdido também

os queira declamar

 

Anjo serafim em mundo de ilusões

por força de muito amar com amor

rendo-me ao vento divino

temo a mim mesmo em mim me perder

 

A mim

sem mim

não me imagino

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 14 de Outubro de 2010

Henrique António Pedro

 

domingo, 22 de setembro de 2024

Anónima


Eu estava ali de passagem

E não ia a fim de me prender

 

Nem tão pouco andava à procura de um inopinado prazer

 

Ela olhou-me à hora de jantar

Com um inexpressivo olhar

Um sorriso sedutor

Ambíguo de interesse

E de certa superioridade

 

Eu mirei-a de soslaio

Apreciando a sua elegante sensualidade

Sem lhe dar a entender

De alguma forma me interessar

 

Porém…

 

Na última noite da minha curta estadia

Percebi que a porta do meu quarto

Muito de mansinho se abria

Para deixar passar alguém

 

Era ela!

Fingi que dormia

Enquanto sentia

Que se deitava a meu lado

Qual amante clandestina

 

E me segredava em surdina

Perante o meu espanto

Que poderia matar ou morrer

Mas que preferia viver

 

Que estava ali apenas para amar

E melhor seria

Portanto

Que eu ficasse calado

E a possuísse

Apaixonado

 

Lá teria a sua razão

Pensei para comigo

Melhor seria não forçar o destino

Já que nunca entendi bem

O coração feminino

 

E assim…

 

Mais por ela

Que por mim

Aquela fortuita noite de Verão

Converteu-se em fogo

Num frenesim

Num vulcão

Num dramático acto

De prazer e paixão

 

E só quando ela se retirou

Sorrateira como entrou

Continuando eu acordado

Me apercebi pela janela entreaberta

Que o céu estava lindo

Estrelado

 

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 14 de Novembro de 2008

Henrique Pedro

 

in Mulheres de Amor Inventadas

Copyright © Henrique Pedro (prosaYpoesia)

1.ª Edição, Outubro de 2013

Depósito legal n.º 364778/13

ISBN: 978-989-97577-2-1